São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Sofismas e o rio Pinheiros
RICARDO TRIPOLI
No entanto, com medo de que esse projeto inovador e barato (tem custo de um décimo do de outras técnicas) pudesse modificar radicalmente o perfil de uma região das mais importantes na maior cidade do país, o PT tem esperneado. Mobilizou simpatizantes no Ministério Público e, com uma ação civil pública, obteve na Justiça a proibição dos testes do processo de flotação. Um dos "argumentos" utilizados para criticar a flotação é a observação de que se trata de um método não-convencional de despoluição, de que processos diversos foram utilizados em países mais desenvolvidos e, invariavelmente, é citado o caso do rio Tâmisa, em Londres. Mas se esquecem de levar em conta que o famoso rio que corta a capital da Inglaterra, além de possuir características distintas, foi despoluído em 1872. Se tentássemos utilizar o mesmo método hoje em São Paulo, concluiríamos o trabalho de despoluição do Pinheiros daqui a cem anos. Não se trata, portanto, de um método viável. Os petistas pretendem bloquear o processo de despoluição do Pinheiros porque a oposição a propostas formuladas por seus adversários políticos que possam efetivamente resolver problemas tornou-se uma estratégia calculada de atuação política do PT. Quanto melhor e mais abrangente for a proposta, com maior veemência ela é combatida. O partido empenha-se para que persista o problema, de forma a alimentar a sua munição de críticas para utilização durante o processo eleitoral. Eleitos, os petistas passam a empunhar as bandeiras às quais, até o momento da eleição, se opunham sistematicamente. Sem cerimônia, lançam mão dos projetos propostos por seus adversários como se novidade fossem, de forma a se candidatarem à paternidade da solução do problema. No âmbito federal, foi essa a premissa adotada pelo partido na discussão da reforma da Previdência. Em nível local, o estratagema vem sendo aplicado no caso da despoluição do rio Pinheiros. Pois o PT percebeu que se o Estado, governado pelo PSDB, obtém sucesso nessa empreitada, transformando o entorno do Pinheiros num oásis dentro da capital de São Paulo, num grande parque público, tal feito irá eclipsar qualquer intervenção urbana que tenha sido realizada pela prefeita do PT, colocando em grande risco a reeleição desta. Em resumo, o que está por trás da oposição ao projeto de despoluição do rio Pinheiros é o medo de perder a eleição municipal deste ano. E, devido ao pânico eleitoral, os petistas abandonaram qualquer compromisso com a verdade, passando a se devotar à prática do sofisma. Ricardo Tripoli, 51, advogado, é deputado estadual pelo PSDB-SP. Foi secretário de Estado do Meio Ambiente (governo Mário Covas). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Milú Villela: Às vésperas dos 450 anos Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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