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TENDÊNCIAS/DEBATES
Errou, corrija-se
JOSÉ ANÍBAL
O apoio do líder do PSDB ao candidato petista à presidência da Câmara é um erro grave e, como tal, deve ser corrigido rapidamente
O APOIO do líder do PSDB ao
candidato do PT à presidência
da Câmara dos Deputados é
um erro grave e, como tal, deve ser
corrigido rapidamente.
O erro é de forma e de conteúdo.
Na forma, uma decisão tão importante não poderia ser tomada sem a
discussão adequada na bancada federal, formada por parlamentares extremamente qualificados. Toda a experiência política da bancada foi
substituída por uma enquete mambembe em que a pergunta, a exemplo
das pesquisas de opinião pública fajutas, presta-se à conclusão a que previamente se quer chegar. Para piorar,
nem sequer a totalidade da bancada
federal foi ouvida.
São desrespeitos inaceitáveis para
com 65 deputados que se dispõem a
executar, em sua plenitude, a tarefa
que o eleitor nos confiou na eleição de
outubro passado: fazer oposição ao
governo Lula, oposição responsável e
construtiva, mas oposição.
No conteúdo, o apressado anúncio
do apoio do PSDB ao candidato do PT
é ainda mais grave. O PSDB é a referência fundamental da oposição em
nosso país. Os dois governos do presidente Fernando Henrique prestaram
serviços inestimáveis ao Brasil, como
a estabilização da moeda, a reforma
do Estado e a rede de proteção social.
Ainda no ano passado, o PSDB disputou a Presidência da República
com o PT no segundo turno com o
candidato Geraldo Alckmin, tendo
obtido 37.543.178 votos, correspondentes a 39,17% dos votos válidos. O
PSDB governa alguns dos Estados
mais importantes do país. Por esses e
outros motivos, o partido tem grande
responsabilidade como oposição.
O PSDB não tem o direito de subordinar o seu dever de fazer oposição,
que o eleitorado lhe incumbiu, a questões menores de caráter regional. Outros partidos se prestam melhor a
acomodar os interesses locais, mesmo em prejuízo da nitidez da atuação
na cena nacional.
A missão do PSDB é outra. Por sua
história e por seu potencial eleitoral,
cabe-lhe ser a principal referência de
comparação com o lulo-petismo, em
especial na defesa de princípios e de
valores, na formulação política, na capacidade administrativa e na esperança dos que não compartilham da
aventura petista.
Do mesmo modo, o apoio ao PT na
eleição da Mesa da Câmara não pode
se justificar por interpretações rasteiras de formalismos jurídicos. A defesa
da proporcionalidade como critério
para o apoio ao petista não se sustenta. A Constituição diz, no art. 58, que,
na formação da Mesa, "tanto quanto
possível" é assegurada a representação proporcional dos partidos.
"Tanto quanto possível" não é imperativo. Em todo caso, pelo critério
da proporcionalidade, caberia ao
PMDB a indicação do presidente, mas
o PMDB abriu mão de seu direito em
benefício do PT, numa negociação caracterizada por forte intervenção do
governo sobre o Legislativo, com a liberação de emendas, cargos e outras
coisas que constituem tudo o que a
sociedade rejeita na relação entre os
Poderes. Isso desobriga o PSDB e as
demais forças políticas quanto ao critério da proporcionalidade.
A candidatura do PT à presidência
da Câmara dos Deputados não atende, em nenhum ponto, às exigências
da cidadania no Brasil. A plataforma
do candidato petista remete mais a
uma pauta de reivindicação sindical,
como se estivéssemos elegendo o presidente do sindicato dos deputados, e
não o ocupante do segundo cargo na
linha de sucessão da República.
Mantido o apoio acrítico e apressado, o PSDB referenda as práticas anti-republicanas do lulo-petismo, que, na
atual eleição da Câmara, renova o uso
despudorado dos vários métodos que
já serviram para enxovalhar o Congresso Nacional em passado recente.
A obrigação do PSDB, na eleição da
Mesa da Câmara, é defender os princípios e valores que tanto estão desprezados na política brasileira. Foi
com esse propósito que um grupo de
parlamentares de diferentes partidos
redigiu a proposta "Autonomia,
Transparência e Combate à Corrupção", com sete pontos programáticos
para uma nova posição da Mesa da
Câmara dos Deputados.
O PSDB servirá melhor ao Brasil se
afastar-se da lógica corporativa e politiqueira que, infelizmente, marca a
eleição da Mesa e colocar-se ao lado
das teses mais saudáveis e regeneradoras para a democracia brasileira e
sua principal instituição, o Parlamento. Não podemos ter compromisso
com o erro. Errou, corrija-se.
JOSÉ ANÍBAL , 59, é vereador de São Paulo e deputado federal eleito pelo PSDB-SP. Foi líder do PSDB na Câmara
dos Deputados (1995-97) e presidente nacional do PSDB
(2001-2003).
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