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TENDÊNCIAS/DEBATES
Ética e ótica
PAULO PEREIRA DA SILVA e MÁRIO HERINGER
O que se esperava colocando Carlos Lupi, um trabalhista, na função de Ministro do Trabalho? Que defendesse os interesses dos poderosos?
O MINISTRO do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi,
tem sofrido implacável bombardeio da Comissão de Ética Pública
da Presidência, que vê conflito de interesses no exercício dos dois cargos.
Essa posição, que não encontra amparo legal e no regimento da própria
comissão, tem sido defendida ferrenhamente por seu presidente interino, o ex-ministro (do governo Collor)
Marcílio Marques Moreira, que é
também conselheiro de empresas
privadas, algumas delas contratadas
pelo governo.
Esse ex-ministro de eras não éticas
agora descobriu que o ministro Lupi
não pode ser também presidente de
partido, ignorando o fato de que, nas
melhores democracias, as parlamentaristas, o primeiro-ministro é quase
sempre o presidente da agremiação
que tem maioria no Parlamento!
A ética do consultor de empresas
que preside a comissão baseia-se, então, no ditado "me engana que eu gosto"? Pelo raciocínio dele, Carlos Lupi
pode continuar ministro desde que se
licencie da presidência do PDT. Nós
fingiremos então que, a partir desse
momento, ele deixará de ser partidário... A mais pura das mentiras! Tudo
fabricado pelos "puros de agora", estes que, sentados sobre os rabos do
passado, metem-se a ditar as regras
do futuro.
Senhores, o ministro Lupi foi escolhido pelo presidente Lula com apoio
de toda a bancada e todo o diretório
do partido. O PDT não escolheu o cargo, não indicou o nome e não pressionou o governo, pedindo o tal "ministério de porteira fechada", como alguns partidos fazem. Como se o ministério fosse uma fazenda...
O partido tão-somente concordou
e deu apoio, pois estava implícito que,
a partir da nomeação, estaríamos na
base de apoio ao governo. Transparência absoluta. O PDT sempre se
comportou assim, pois assim exigia
nosso saudoso Leonel Brizola.
Pois bem: não mudamos nossa opinião e vamos agora defender esse cargo, esse nome e nossas crenças. Todos
sabem que defendemos posições claras relativas ao trabalhismo, à educação, à soberania nacional, aos direitos
humanos, à Previdência etc.
Não usem o subterfúgio do sofisma.
Isso que querem não é ética, e sim ótica ditada pela economia. Apertem-nos pelas nossas possíveis incoerências no exercício de nossas funções.
Não nos prejulguem.
O que se esperava colocando um
trabalhista na função de Ministro do
Trabalho? Que ele continuasse a defender os interesses dos poderosos?
Que ele se deslumbrasse com o poder? Se esperavam por isso, entendemos por que tanto querem nos tirar.
E, se querem, terão que fazer pela via
direta, sem malandragens.
Nós vamos, sim, exercer com clareza e transparência os nossos princípios partidários e devemos fazer isso
com pessoas que pensam como nós.
Nós vamos brigar pela educação,
por treinamento e qualificação profissional dos trabalhadores, sim. Nós
vamos continuar combatendo esse
sistema escravocrata disfarçado, sim.
Vamos fortalecer o sindicalismo, sim.
Nós vamos avisar ao trabalhador que
ele tem direito ao seu PIS anual, sim
(não vai ficar lá engordando banco,
não). Nós vamos garantir os direitos
trabalhistas, sim.
Nós é que somos os modernos neste jogo... Nós é que fugimos do sistema escravocrata. Nós sabemos, e todos sabem, que estamos dispostos a
discutir a modernização das relações
trabalhistas e até dotá-la de ferramentas atuais.
Por exemplo: em lugar da carteira
de trabalho grande e de papel, usar
um cartão digital, prático e definitivo.
Ainda que isso prejudique a empresa
cujos interesses o presidente da Comissão de Ética Pública representa.
Senhores, não transformem o ministro Carlos Lupi na flor do recesso
-procurem outra flor para regar para
não ter a dor de arrependerem-se.
Controlem-no, avaliem-no, mas não
o prejulguem. E, antes de decidir, vejam como sempre foram escolhidos
os ministros no Brasil e digam o que
vocês sabiam do que se passava na alma de muitos deles, que, não sendo
representantes partidários, não sofreram ou sofrem tal preconceito.
Preconceito, sim! De origem, de
ideal, de caráter, de firmeza, de destemor, de amor ao povo brasileiro.
A nossa história sempre nos colocou ao lado dos interesses do povo.
Nossas causas sempre acabaram se
mostrando as melhores porque têm
sintonia com a força do poder originário. Origem essa que não pode, em
hipótese nenhuma, ser abusada na
sua confiança por quem quer que seja.
Presidente Lula, nós estamos com o
Lupi. Comissão de Ética Pública, deixe o homem trabalhar!
PAULO PEREIRA DA SILVA, 51, o Paulinho, é presidente
da Força Sindical, deputado federal pelo PDT-SP e líder do
bloco de esquerda (PDT, PSB, PSB e PMN) da Câmara.
MÁRIO HERINGER , 53, médico e administrador hospitalar, é deputado federal pelo PDT-MG.
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