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CESAR MAIA
Resistência parlamentar
AS ELEIÇÕES parlamentares
no Brasil ocorrem num
quinto plano, como se não
tivessem importância. Minimizadas pela cobertura da imprensa, ridicularizadas pelas aparições na
TV e não alcançadas pelas pesquisas, os curiosos só vão descobrir o
resultado da eleição proporcional
com a publicação dos nomes pelos
jornais no dia seguinte. Ali, um ou outro garimpa o seu candidato.
E os analistas tratam, então, graficamente, da composição do novo
Congresso. Num quadro pluripartidário inorgânico como o brasileiro, se tem dito: "tanto faz". Afinal,
nenhum partido chega perto dos
20% na Câmara dos Deputados. E o Executivo contrata a sua maioria.
Mas a atenção hoje deveria ser
outra, com os exemplos que correm pela América Latina, que sinalizam riscos e, assim, a necessidade, em 2010 e daí para a frente, de se dar atenção muito maior às eleições parlamentares.
Na Venezuela, no Equador e na
Bolívia, os políticos, os partidos, os
intelectuais, os analistas e a imprensa concentraram suas atenções no líder populista, nas pesquisas indicando a sua popularidade,
nos plebiscitos que propõem, nas
reeleições. Com isso, os Parlamentos foram desossados. Na Venezuela, na eleição parlamentar anterior,
os partidos de oposição decidiram
não concorrer, e a Câmara passou a ser, literalmente, de partido único.
Com isso, esses governos passaram a tratar a lei como um ato administrativo seu e avançaram sobre as instituições, o direito de propriedade e as liberdades individuais, de expressão e de imprensa.
A exceção é o Paraguai. Com a vitória inevitável de Lugo, os partidos
concentraram-se na formação de
um Congresso de resistência. E é
exatamente aí onde as extravagâncias chavistas não conseguem
avançar. Se os Kirchner se coçavam na busca de uma variante do
chavismo, ao perderem, nas eleições de 2009, a maioria na Câmara
e Senado, essa aventura passou a enfrentar resistências.
Aqui, os dois decretos do governo Lula, um atropelando a Lei de
Anistia, outro, um pout-pourri de
excentricidades autoritárias, acenderam a luz vermelha sobre as eleições de 2010. A esquerda autoritária, pós-mensalão, perdeu a hegemonia para o sindicalismo no partido e no governo. E abriu para esse
as delícias dos fundos e dos conselhos de administração. E agora recobra força, mostra suas unhas
afiadas com um "programa de governo", quem sabe para aplicar em 2011.
Os distraídos continuarão a concentrar toda a sua atenção na eleição presidencial. No dia seguinte,
lerão nos jornais o nome dos parlamentares eleitos. Se antes tanto fazia, agora não. Eleger um Congresso com força suficiente para resistir a aventuras chavistas é tão importante quanto a própria eleição
presidencial: daqui para a frente.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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