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MELCHIADES FILHO
Proteção total
BRASÍLIA - A Temasek foi recebida em 2001 pela Indonésia como
salvadora da pátria. Capitalizou
empresas insolventes, tocou projetos de infra-estrutura na área de telecomunicações e reempregou milhares de pessoas. No final de 2007,
com o país enfim refeito da crise
asiática, recebeu o aviso do governo: embora cumprisse rigorosamente a lei, deveria entregar os negócios, sob a alegação de que afrontava a soberania nacional.
O revés do fundo de investimentos de Cingapura, ainda que pareça
remoto, merece ser lembrado neste
momento em que o dinheiro de
emergentes lastreia bancos do Primeiro Mundo e impede (retarda?) a
recessão nos EUA. O aporte estrangeiro pode se tornar indesejável
quando as coisas se estabilizam na
economia socorrida.
Hoje a perspectiva de um desaquecimento assusta todo mundo.
Corredores comerciais da Ásia, como a Tailândia, se insurgem contra
os produtos chineses. O embargo à
carne brasileira pela Europa não é
coincidência. Nem a corrida à África, último mercado sem barreiras.
Mas é nos EUA que a onda protecionista começa a quebrar forte -e
bem antes de o país vislumbrar o
reequilíbrio. Graças, em parte, à feroz campanha democrata à Presidência. Ambos os pré-candidatos
prometeram recuperar a capacidade de o mercado nacional atender
às demandas internas de consumo.
Hillary se disse desconfiada dos
fundos soberanos, defendeu mecanismos para monitorar esses investimentos e anunciou que reexaminará o Nafta, o acordo de livre comércio que o marido assinou.
Obama avisou que vai "mandar
um recado" à China, declarou que o
Nafta só funciona para mexicanos e
canadenses e prometeu repatriar,
por meio de subsídios federais, os
empregos que o país exportou.
Há outros fatores em jogo nessa
eleição, claro. Mas é curioso que em
Brasília, uma zona franca sob vários
aspectos, a disputa Hillary x Obama
desperte tamanho entusiasmo.
mfilho@folhasp.com.br
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