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TENDÊNCIAS/DEBATES
Os gastos da segurança presidencial com cartões corporativos devem ser mantidos sob sigilo?
SIM
Dilema: segurança x transparência
JORGE ARMANDO FELIX
" VIVEMOS NUM permanente embate entre a
chamada transparência
absoluta e a necessidade de preservar
ao máximo a segurança das autoridades e das demais pessoas protegidas.
Do ponto de vista da segurança, do
nosso trabalho, quanto menor a
transparência, maior o grau de segurança. O que buscamos é achar um
ponto de equilíbrio." Essas palavras,
que usei numa entrevista coletiva e
das quais a imprensa destacou apenas
uma frase, usada recorrentemente
por alguns veículos, mostram o dilema que nos traz a estas páginas: segurança x transparência.
Por lei, o Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) deve zelar pela segurança pessoal do chefe de Estado,
do vice-presidente e respectivos familiares, bem como pela segurança
dos palácios presidenciais e das residências. Vale a pena ressaltar algumas peculiaridades dessa atribuição:
- Não há limites físicos, o que significa que onde quer que residam ou estejam as pessoas a serem protegidas,
ali também têm que estar as pessoas
que lhes dão proteção, seja em suas
casas, em seus locais de trabalho, vivendo seu dia-a dia, seja em viagens
de qualquer natureza, ou mesmo em
locais de lazer como teatros, shows ou
restaurantes. A pessoa vai a um teatro, os seguranças vão ao teatro. Vai à
praia? Os seguranças também vão e
com a obrigação de saber nadar.
- A segurança faz uma avaliação de
riscos para cada situação e alerta as
pessoas sob sua proteção. Mas a decisão de fazer ou não fazer alguma coisa
é exclusiva dos protegidos, cabendo à
segurança executar seu trabalho da
melhor forma possível.
Com que níveis de risco trabalhamos? Cada caso é um caso. As possíveis ameaças são múltiplas e muitas
vezes pouco previsíveis. Quem matou
John Lennon foi um fã ardoroso;
quem atirou contra Reagan foi um
apaixonado por uma atriz de cinema;
Sérgio Vieira de Mello foi morto em
uma missão humanitária; na vizinha
Argentina, houve dois atentados que
causaram o maior número de mortes
da história israelense; Tim Lopes foi
brutalmente assassinado quando fazia seu trabalho jornalístico; mais recentemente, um presidente da Ucrânia foi envenenado. Nossa própria
história registra atentados como
aqueles ocorridos contra d. Pedro 2º,
em 1889, e contra Prudente de Moraes, em 1897. Seqüestros são constantes ameaças no mundo, como forma de intimidação, pressão política
ou busca de resgate. Esses são apenas
alguns exemplos. Quando o presidente do Brasil encontra-se ao lado do
presidente dos EUA ou do rei da Espanha, seu grau de risco é o mesmo
dessas outras personalidades.
Em que medida a informação ostensiva contida em pequenas despesas corriqueiras pode ameaçar a segurança? Vejamos:
- A proteção de coletes balísticos
enviados a uma lavanderia mostra o
tipo de colete e, em conseqüência,
qual a munição necessária para perfurá-lo, assim como o tipo de carro
blindado alugado ou adquirido numa
licitação permite a mesma dedução;
- Quantidade de seguranças, rotinas de trabalho, posição do carro do
presidente em um comboio são facilmente dedutíveis quando sabemos
quantas refeições são encomendadas,
onde são realizados os treinamentos
e a manutenção dos veículos, ou quais
equipamentos de comunicação foram
adquiridos.
Pelas razões citadas, julgamos que a
maior parte dos gastos, mesmo aqueles aparentemente irrelevantes, deve
sofrer uma criteriosa avaliação para
decidir os que não serão considerados
sigilosos. Ressalto que os gastos realizados pelos agentes da segurança são
verificados pela chefia imediata, pelo
Departamento de Segurança do GSI,
pelo controle interno da Presidência
e pelo TCU, ficando as prestações de
contas de modo permanente à disposição dessas autoridades, o que por si
só já caracteriza transparência.
Por último, destaco que o cargo de
presidente da República não é de natureza comum. Trata-se de uma instituição, cujo ocupante provém de uma
escolha realizada pela maioria absoluta dos eleitores brasileiros. Cabe à
sociedade compreender a importância dessa instituição, valorizá-la e zelar por sua dignidade. E ao GSI, preservar sua liberdade de ação e garantir sua segurança.
JORGE ARMANDO FELIX, 69, é ministro de Estado chefe
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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