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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Baile dos mascarados
SÃO PAULO - Dilma Rousseff se
deixa fotografar com a pequena
Mercy no colo. A cena da ministra-candidata segurando a filhinha adotiva e negra de Madonna no camarote oficial do governador do Rio é
imbatível em matéria de pop-populismo pré-eleitoral-carnavalesco.
A ministra ainda desceu do camarote para dançar no chão do sambódromo com um gari que varria a
passarela do samba entre uma escola e outra. Dilma, a vassoura e seu
gari brilharam diante dos flashes,
ensaiando passos como se fossem
mestre-sala e porta-bandeira.
No Carnaval, disse a ministra, as
pessoas "se libertam" de opressões
do dia a dia. Dilma tenta se libertar
da armadura tecnocrática, sua língua natural. Vestiu a fantasia da foliã e investe na gramática da demagogia sem vacilações.
"Vilma", como o povão a chamou
recentemente num ato público,
procura aprender com Lula as artes
da política palanqueira.
Ela e José Serra estiveram nos últimos dias no Galo da Madrugada,
em Recife, e nos desfiles de bloco de
Salvador. O tucano e o Carnaval não
se bicam, parece óbvio. Mas não é
esse o pior problema. Na Bahia, Serra fazia questão de se explicar: "Não
vim aqui como palanque eleitoral,
vim para curtir pessoalmente".
E era tanta a curtição no cercadinho demo-tucano soteropolitano
que Ivete Sangalo, ao avistar o governador do alto do trio elétrico,
disparou ao microfone: "Ali está José Serra. Está com os olhos cansados, meu filho. Olhinhos de sono.
Bota um energético pra dentro,
meu filho, se não você não segura".
Pode-se deduzir desse constrangimento carnavalesco que Serra
também faz demagogia, mas ao
contrário. É candidato, mas diz não
ser. Talvez até goste de Carnaval,
mas dá a impressão de fazer um esforço imenso para se distrair com a
alegria dos outros.
Os tucanos vivem dias de aflição.
Se fosse marqueteira, Ivete Sangalo
poderia ter dito ao governador:
"Bota o candidato pra fora, meu filho, se não você não segura".
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