São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Fenomenologia

SÃO PAULO - A melhor definição que conheço do que distinguiu o gênio de Ronaldo em campo está no livro do ensaísta José Miguel Wisnik, "Veneno Remédio: o Brasil e o Futebol" (página 362):
"Na sua fase áurea, os dribles funcionais, progressivos, sem preocupação ornamental e sem ênfase no jogo de cintura, mesmo que ornados de elásticos e pedaladas, mas articulados sempre com a perspectiva do arremate -além da avassaladora solidez do arranque, da velocidade e do equilíbrio-, fazem pensar numa curiosa mistura de futebol com Fórmula 1".
O próprio Wisnik, mais adiante, fala que Ronaldo, fora de campo, alternou sinais de realismo e maturidade (sempre "direto e sensato nas entrevistas") com atitudes mais próprias do universo infantil ou dos contos de fadas (o corte de cabelo na Copa de 2002, o casamento com a modelo no castelo francês...).
Fundiram-se nele, pela primeira vez em escala planetária, o mundo da bola e o universo pop das celebridades globais. A mercantilização total do futebol teve em Ronaldo o seu primeiro modelo e astro.
Talvez se deva pensar, para além da dicotomia sensatez/criancice, na mistura entre força e fragilidade que sua figura inspira, como se uma se alimentasse da outra. É incrível que uma carreira em todos os sentidos tão acidentada tenha sido (também por isso) tão espetacular.
Penso que o episódio dos travestis é só um assunto privado. A reação mais bonita e corajosa à sua escandalização barata (e à truculência homofóbica que se espraiou do meio futebolístico para fora) partiu de Caetano Veloso, num discurso-homenagem que fez de improviso ao jogador. Está no "Youtube".
No fim da carreira, apesar das suas imensas limitações físicas, Ronaldo ainda conseguiu ser uma espécie de Midas. Até quando não era mais o Fenômeno, ele soube fazer bem ao futebol brasileiro. Sua presença ajuda a modernizar um ambiente que, de certa forma, ainda está devendo sua Revolução de 30.


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