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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Oxalá seja um pesadelo!

O que está por trás da guerra prometida para começar nas próximas semanas? Muitas coisas.
Uma delas é a terrível escara que ainda não cicatrizou na alma de um povo que foi atingido no seu sentimento de orgulho e dignidade ao ver um grupo de fanáticos usarem aviões americanos para destruírem os cultivados símbolos de nação livre, forte e segura.
A outra é o medo generalizado que tomou conta de uma população que se vê indefesa diante dos sinais de alerta continuamente anunciados pelo governo para dizer que a nação pode ser atacada a qualquer momento -sem maior explicação.
A última é a situação desesperadora da maior economia do mundo diante de um grave colapso que pode ocorrer, em poucos anos, por falta de energia, em especial de petróleo.
Os Estados Unidos estão numa encruzilhada. Entre 1970-1990, o consumo de petróleo aumentou 13%, e a produção doméstica diminuiu 30%. O país não tem petróleo suficiente para sobreviver nos padrões atuais. Seus poços são raquíticos quando comparados aos do Oriente. A média de produção dos 600 mil poços americanos é de apenas 11 barris por dia, enquanto na Arábia Saudita essa média ultrapassa os 9.000 barris por dia. É uma diferença monumental (Robert A. Ristinen e Jack J. Kraushaar, "Energy and the environment", John Wiley & Sons, New York, 1999).
Além disso, as reservas americanas são diminutas, o que coloca os Estados Unidos dependentes de petróleo importado por muitas décadas. Os americanos estarão nas mãos dos produtores estrangeiros por muito tempo. O quadro abaixo dá uma idéia da brutal diferença entre os países no que tange às reservas de petróleo.
A dramaticidade da situação dos Estados Unidos só é superada pela da Inglaterra.
Os Estados Unidos sozinhos utilizam 32% da energia mundial, na maioria combustíveis fósseis, que, por sua vez, respondem por 85% da energia do planeta, recebendo para tal US$ 120 bilhões de subsídio todos os anos.
O consumo diário de petróleo nos Estados Unidos ultrapassa a casa dos 20 milhões de barris -dez vezes o consumo no Brasil. O país tem um PIB de mais de US$ 10 trilhões por ano, e sua população se aproximam da casa dos 300 milhões de habitantes. A nação está sufocada diante de uma restrição tão severa.
Quando se junta o constrangimento energético com a desmoralização do 11 de setembro e com o desassossego do povo que não pode viver em paz em seu próprio país, é claro que a guerra surge como uma alternativa perversa.
Oxalá tudo isso seja um pesadelo, esperando que os líderes façam um esforço para readquirir o bom senso e resolver esses problemas por meio do entendimento, e não da destruição.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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