São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Protestos e confrontos

RIO DE JANEIRO - Impressionantes as imagens que nos chegaram da Espanha, com multidões nas ruas condenando atos terroristas em geral e em particular o atentado da semana passada.
Não se podem considerar inúteis tais e tamanhas concentrações, mas, em certo sentido, não deixam de ser ociosas. O terrorismo, na Espanha ou em qualquer parte, é produzido por grupos radicais que abraçam uma causa e a resolvem impor aos demais de forma violenta e covarde.
Esses elementos obviamente não participam das concentrações nem se comovem com elas. São incentivados a provocar manifestações maiores. Se aumentarem o terror, aumentarão as concentrações e os protestos, que mais cedo ou mais tarde obrigarão os governos a ceder à chantagem.
Na crônica de ontem, lamentei que o combate ao terror se processe por meios militares e meramente policiais, que são necessários, sem dúvida, na prevenção de novas chacinas, mas não resolvem estruturalmente o problema, acima de tudo político.
Toda vez que ocorre um atentado terrorista, as autoridades declaram enfaticamente que não negociarão com os bandidos. Quando se trata de crimes comuns, sem conotação política ou social, compreende-se que não haja negociação possível com os criminosos -só apuração e punição.
Mas o terror provocado por causas políticas, religiosas ou sociais, embora igualmente condenável, deve ser negociado, apelando-se para a guerra somente quando se esgotam todas as possibilidades de um acordo. Daí que a guerra seja a continuação da política por outros modos.
Na questão que envolve a atual crise entre árabes e judeus, por exemplo, as negociações são pífias e tecnicamente impraticáveis, pelo menos até agora. Nas desavenças com o mundo islâmico, que envolvem raça, territórios, religião e petróleo, estamos longe de uma solução política, restando-nos apenas a sangrenta solução do confronto.


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