São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

O anti-Lula

BRASÍLIA - Sem discursos e anúncios bombásticos, e com as denúncias que não param de surgir contra Palocci (o santo do pau oco, principal pilar do seu governo), Lula deveria no mínimo estacionar nas pesquisas. Mas a CNI-Ibope de ontem manteve a tendência de alta, e os novos fatos políticos têm sido a seu favor.
Alckmin é vendido como o "novo", que tem tudo para crescer e derrotar Lula com o seu jeito certinho, eficiente, professoral. Mas, na prática, nua e crua, Serra tinha mais votos e empatava com Lula. Alckmin vai ter de suar muito para queimar 24 pontos atrás e chegar ao início do horário de TV em pé de igualdade com Lula.
E o PMDB governista dá motivos para festa no Planalto: numa "jogada ensaiada", segundo o governador e pré-candidato Germano Rigotto (RS), a turma acertou com o Supremo jogar as prévias para depois da decisão do Tribunal sobre verticalização, e essa decisão só será depois de 31 de março. Tudo pronto para enterrar as prévias, Garotinho e Rigotto.
Com isso, o PMDB e o Supremo tiram da frente o fator Garotinho e dificultam o segundo turno. Sem ele e sem Enéas (que estaria doente), a campanha pode ficar resumida a Lula e Alckmin, mais Heloísa Helena e três pequenos candidatos, um do PDT, outro do PPS e o tal do Eymael. Eis o pavor de FHC e do PFL: cheira a primeiro turno e favorece o candidato à reeleição, com o pé no palanque e a mão na caneta. Como em 98.
Lula, pois, é um candidato curioso: deixou de ser o mito de 2002 e construirá seus palanques sobre os escombros de seus dois pilares (Dirceu e Palocci), sob a fumaça do seu partido (PT), fustigado por denúncias e com crescimento econômico haitiano. Mas com chances reais de vitória.
Alckmin será muito pressionado a mostrar rapidamente a que veio, porque a oposição começa a fazer um discurso estranho, de descrédito: o de que o anti-Lula é o próprio Lula -ou a sua corrosão. Depois disso, só vai faltar uma tática: rezar.

@ - elianec@uol.com.br


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