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ANTONIO DELFIM NETTO
Pequeno escândalo
QUANDO SE está no governo,
há uma enorme dificuldade
de aceitar a sua ineficiência.
É curioso ver como os candidatos a
cargos executivos a "enxergam"
apenas enquanto estão em busca
do poder. Tão logo têm sucesso, são
atacados por cegueira intransponível e aumentam os impostos para
supostamente corrigi-la. Agora ela
é vista como produto da falta de recursos, que pode comprometer sua
administração virtuosa. A história
nacional mostra um processo geológico: mais recurso acaba sempre
numa ineficiência de "nível superior" que se acumula sobre a de "nível inferior"...
Cada chefe de Executivo (de prefeito a presidente) antropomorfiza
seu cargo. Ele se supõe o próprio
Estado e, conseqüentemente, a
acusação de ineficiência é introjetada como crítica pessoal. Não consegue aceitar que essa ineficiência
não tem dono, não tem origem e,
aparentemente, não terá fim. Ela
apenas é! Trata-se de um fenômeno quase "natural": uma infecção
que o organismo nacional hospeda
desde os tempos coloniais e à qual
se ajusta sem nunca querer saber
quanto lhe custou em termos de dificuldades para a construção de
uma sociedade mais desenvolvida
e mais equânime. Isso, é claro, não
se refere às políticas que melhoram
a igualdade de oportunidades dos
cidadãos economicamente mais
humildes. Estas são necessárias
(ainda que não suficientes) para a
continuidade de políticas econômicas razoáveis num regime politicamente aberto com sufrágio universal. Mas nem elas podem justificar o desperdício produzido pela
ineficiência.
Há crescentes evidências de que
o Brasil tem o Estado mais caro do
mundo quando se compara o que
ele arrecada da sociedade com o
volume e a qualidade dos serviços
que lhe devolve.
Recentemente, um economista
do Ipea acrescentou mais uma demonstração a essa tese. No 20º Seminário de Política Fiscal, realizado no Chile em janeiro deste ano, o
senhor Márcio Bruno Ribeiro
apresentou um trabalho ("Eficiência do Gasto Público na América
Latina") que deve merecer muita
atenção. Usando um número enorme de fontes e técnicas de medição
sofisticadas, mostrou a triste situação em que se encontra o país nessa matéria.
Quando se compara o "consumo
do governo" com o "desempenho
do setor público", ocupamos o 16º
lugar (o penúltimo, antes da Bolívia) entre os 17 países latino-americanos. E, quando se corrige o ranking por "outras variáveis explicativas", ainda somos o 10º colocado
entre eles. Trata-se, obviamente,
de um pequeno escândalo.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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