São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

"Aqui é mais seguro"

BRASÍLIA - São escabrosas as confissões de um funcionário dos Correios retratadas em reportagem de Policarpo Junior, em "Veja" desta semana. Maurício Marinho é corrompido dentro da sede da estatal, aceita um maço de dinheiro e ainda relata que faz a traficância em nome do PTB e de seu presidente, o deputado federal fluminense Roberto Jefferson (ex-Collor, ex-FHC e hoje pró-Lula).
Sincero e sem-cerimônia, Marinho explica por que recebe a propina no local de trabalho: "Aqui é mais seguro que lá fora, aqui não tem problema". Ao pronunciar "aqui", está dizendo "governo Lula".
Corrupção no serviço público não é novidade. Mas, quando uma operação criminosa é bem documentada, como nesse caso dos Correios, o país tem um momento especial. Pode escolher entre dois caminhos. O convencional, limitando a punição ao corrupto mais visível. A outra hipótese é mais dolorosa: faz-se uma ampla investigação para condenar o maior número possível de gente envolvida. Para o bem e para mal, investigação ampla no Brasil depende de CPI.
O juiz maior de como proceder nesse episódio dos Correios é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Só um sinal verde do Planalto abrirá caminho para uma CPI no Congresso. Não é uma decisão fácil.
No vídeo em que aparece se arreganhando, Marinho diz: "Nós somos três e trabalhamos fechado. Os três são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson". E mais: "É uma composição com o governo. Nomeamos o diretor, um assessor e um departamento-chave. Eu sou o departamento-chave. Tudo o que nós fechamos o partido fica sabendo".
Em resumo, Marinho acusa Roberto Jefferson, freqüentador habitual do gabinete do presidente Lula, de comandar no PTB um pesado esquema de corrupção federal.
Enlameado, o Congresso arranha o fundo do poço. Vai reagir? Não se sabe se deputados e senadores querem. Ou, no caso, se Lula permitirá.

frodriguesbsb@uol.com.br

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