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FERNANDO RODRIGUES
"Aqui é mais seguro"
BRASÍLIA - São escabrosas as confissões de um funcionário dos Correios
retratadas em reportagem de Policarpo Junior, em "Veja" desta semana. Maurício Marinho é corrompido
dentro da sede da estatal, aceita um
maço de dinheiro e ainda relata que
faz a traficância em nome do PTB e
de seu presidente, o deputado federal
fluminense Roberto Jefferson (ex-Collor, ex-FHC e hoje pró-Lula).
Sincero e sem-cerimônia, Marinho
explica por que recebe a propina no
local de trabalho: "Aqui é mais seguro que lá fora, aqui não tem problema". Ao pronunciar "aqui", está dizendo "governo Lula".
Corrupção no serviço público não é
novidade. Mas, quando uma operação criminosa é bem documentada,
como nesse caso dos Correios, o país
tem um momento especial. Pode escolher entre dois caminhos. O convencional, limitando a punição ao
corrupto mais visível. A outra hipótese é mais dolorosa: faz-se uma ampla
investigação para condenar o maior
número possível de gente envolvida.
Para o bem e para mal, investigação
ampla no Brasil depende de CPI.
O juiz maior de como proceder nesse episódio dos Correios é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Só um sinal verde do Planalto abrirá caminho para uma CPI no Congresso.
Não é uma decisão fácil.
No vídeo em que aparece se arreganhando, Marinho diz: "Nós somos
três e trabalhamos fechado. Os três
são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson". E mais: "É uma composição com o governo. Nomeamos o
diretor, um assessor e um departamento-chave. Eu sou o departamento-chave. Tudo o que nós fechamos o
partido fica sabendo".
Em resumo, Marinho acusa Roberto Jefferson, freqüentador habitual
do gabinete do presidente Lula, de
comandar no PTB um pesado esquema de corrupção federal.
Enlameado, o Congresso arranha o
fundo do poço. Vai reagir? Não se sabe se deputados e senadores querem.
Ou, no caso, se Lula permitirá.
frodriguesbsb@uol.com.br
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