São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2000


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CLÓVIS ROSSI

Não é "ou", é "e"

SÃO PAULO - A pesquisa do Datafolha sobre a violência, publicada ontem por este jornal, acaba criando uma falsa dicotomia. Não se trata de pedir mais ação social ou mais polícia. Ambas são indispensáveis.
Seria até sedutor, além de politicamente correto, defender a tese, como o fez a maioria dos pesquisados, de que a ação social é a melhor maneira de encarar o problema da violência.
Mas é uma tese igualmente ingênua. Primeiro, porque a fonte maior de violência é o crime organizado. E o crime organizado não viola a lei por falta do que comer, mas porque se trata de um dos maiores negócios do planeta, hoje em dia. Portanto, mesmo que se chegasse à utopia de acabar totalmente com a pobreza e com a desigualdade, ainda assim o crime organizado continuaria vivo.
E, com ele, toda a violência inerente ao tráfico de drogas, ao contrabando, à disseminação de armas etc. etc. etc.
Para esse caso, que, repito, é o maior fator de violência, só tem um remédio: repressão.
Mas repressão eficaz, com investigação, serviço de inteligência, colaboração entre as polícias dos diferentes Estados, que hoje são compartimentos estanques. Desnecessário dizer que repressão eficaz pressupõe reduzir o nível de corrupção hoje visível a olho nu nas corporações policiais.
Mesmo a pequena criminalidade, se me perdoam os puristas, não dispensa hoje uma dose de prevenção e repressão, acoplada, claro, a ações sociais. A cultura de violência que se disseminou pelo país, somada à certeza da impunidade, faz com que muitos atos bárbaros vistos todos os dias não tenham nada a ver com privações por que passem seus autores, mas com uma escala de valores pervertida por "n" razões, entre elas a iniquidade social, que é uma mancha enorme no mapa do país.
Não se trata, pois, de escolher entre uma coisa ou outra, mas de cobrar ambas, que são devidas.


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