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CLÓVIS ROSSI
Não é "ou", é "e"
SÃO PAULO - A pesquisa do Datafolha sobre a violência, publicada ontem por este jornal, acaba criando
uma falsa dicotomia. Não se trata de
pedir mais ação social ou mais polícia. Ambas são indispensáveis.
Seria até sedutor, além de politicamente correto, defender a tese, como
o fez a maioria dos pesquisados, de
que a ação social é a melhor maneira
de encarar o problema da violência.
Mas é uma tese igualmente ingênua. Primeiro, porque a fonte maior
de violência é o crime organizado. E o
crime organizado não viola a lei por
falta do que comer, mas porque se
trata de um dos maiores negócios do
planeta, hoje em dia. Portanto, mesmo que se chegasse à utopia de acabar totalmente com a pobreza e com
a desigualdade, ainda assim o crime
organizado continuaria vivo.
E, com ele, toda a violência inerente
ao tráfico de drogas, ao contrabando,
à disseminação de armas etc. etc. etc.
Para esse caso, que, repito, é o
maior fator de violência, só tem um
remédio: repressão.
Mas repressão eficaz, com investigação, serviço de inteligência, colaboração entre as polícias dos diferentes
Estados, que hoje são compartimentos estanques. Desnecessário dizer
que repressão eficaz pressupõe reduzir o nível de corrupção hoje visível a
olho nu nas corporações policiais.
Mesmo a pequena criminalidade,
se me perdoam os puristas, não dispensa hoje uma dose de prevenção e
repressão, acoplada, claro, a ações sociais. A cultura de violência que se
disseminou pelo país, somada à certeza da impunidade, faz com que
muitos atos bárbaros vistos todos os
dias não tenham nada a ver com privações por que passem seus autores,
mas com uma escala de valores pervertida por "n" razões, entre elas a
iniquidade social, que é uma mancha enorme no mapa do país.
Não se trata, pois, de escolher entre
uma coisa ou outra, mas de cobrar
ambas, que são devidas.
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