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FERNANDO RODRIGUES
O crepúsculo de Renan
BRASÍLIA - É impossível prever o
desfecho da crise na qual mergulhou o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL). Como o
processo já começou, ele só pode
ser absolvido ou cassado. Não há
mais a hipótese de renunciar para
fugir de uma eventual punição.
Há um certo tom patético em todo o caso, como nos escândalos políticos midiáticos de qualquer país.
Homem casado, relação fora do casamento, filha, mulher bonita, pensão em dinheiro vivo e rebanho de
gado fabuloso no interior de Alagoas. O azar de Renan é a fácil inteligibilidade da sua encrenca.
Poucos brasileiros sabem descrever o longínquo caso dos precatórios ou mesmo o conteúdo da recente Operação Hurricane, da PF.
Mas filha fora do casamento, dinheiro vivo e vacas milionárias suspeitas todos entendem.
Para completar, Renan Calheiros
não é um qualquer. Preside o Senado. Foi aliado de todos os governos
pós-ditadura militar: Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula. Tem sotaque nordestino. É o protótipo do
político marcado para ser detestado
no Sul e no Sudeste -mesmo que os
eleitores dessas regiões despachem
para Brasília certos clones caucasianos do mesmo Renan.
Inocentado ou condenado, o senador alagoano já é um político em
processo avançado de desidratação.
Antes do Renangate, ajudava a conduzir a aliança de seu partido, o
PMDB, com Lula. Exalava perspectiva de poder. Sonhava ser candidato a vice-presidente numa chapa
competitiva em 2010.
A chance de Renan vir a ser vice-presidente agora tende a zero. Do
ponto de vista político, pouco importa se os bois renanzistas existem
ou qual foi o valor de venda. O presidente do Senado fragilizou-se de
maneira irreversível. Se não for cassado, poderá continuar no Congresso ainda muitos anos. Mas sua
carreira terá entrado numa longa e
cinzenta fase crepuscular.
frodriguesbsb@uol.com.br
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