São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2008

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Choque de preços

Disparada da inflação de itens primários, em meio a especulação nas finanças, dificulta gestão da economia global

ATÉ AGORA a disparada no preço global das chamadas "commodities" não dá mostra de ceder. De junho de 2007 a junho de 2008, o petróleo subiu 90%; o gás natural, 52%. Já as cotações do arroz tiveram alta de 86%, as da soja, 65% e as do milho, 61%. Em média, as cotações dos produtos básicos aumentaram 35% nos últimos 12 meses.
Esse choque de preços tem várias causas: aumento da demanda, queda nos estoques, problemas de oferta. Mas, por trás desse processo, há também movimentos exclusivamente financeiros. Após a ruptura da bolha imobiliária americana, a taxa de juros básica dos EUA despencou, e o dólar se desvalorizou mais. Os grandes investidores mundiais passaram a assumir volumes crescentes de contratos em bolsas de mercadorias e futuros.
Até nome já se cunhou para esses aplicadores: são os "especuladores de índices", pois perseguem o rendimento das 25 principais commodities mundiais. Ocorre que o preço no mercado futuro é referência para os valores cobrados à vista pelos produtores dessas mercadorias. Quando o primeiro sobe, os segundos também se elevam. Cotações futuras em alta atraem mais investidores, e uma bolha se infla.
Essa alta renitente tem sido repassada aos consumidores, elevando as taxas de inflação em escala mundial. Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor registrou variação de 0,6% no mês de maio e 4,9% em 12 meses. Excluindo energia (28,2%) e alimentos (6,2%), o núcleo da inflação anual foi de 1,8%. Na Alemanha, o índice ao consumidor de maio chegou a 3,1% em 12 meses. Na China, o aumento nos preços dos alimentos alcançou 22,1% em abril.
Diante das pressões inflacionárias, o banco central americano indicou que vai parar de reduzir seus juros básicos, hoje em 2% ao ano. Já a remuneração dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, referência mundial para os juros cobrados de tomadores finais, estão em alta. De 3,3% ao ano no fim de março, chegou a 4,3% na sexta. O Banco Central Europeu revelou disposição de aumentar sua taxa básica.
Preços e juros em alta reforçam a tendência de desaquecimento econômico, o que deveria contribuir para o declínio da inflação. Todavia as aplicações especulativas nos mercados futuros sustentam os preços altos.
O risco é que, em algum momento, essa dicotomia se desfaça abruptamente, com os especuladores fugindo em manada de suas aplicações em commodities, rumo aos títulos públicos mais confiáveis do planeta. Seria o estouro da bolha, com prejuízos ponderáveis para os países que exportam produtos básicos.


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