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Choque de preços
Disparada da inflação de itens primários, em meio a especulação nas finanças, dificulta gestão da economia global
ATÉ AGORA a disparada
no preço global das
chamadas "commodities" não dá mostra de
ceder. De junho de 2007 a junho
de 2008, o petróleo subiu 90%; o
gás natural, 52%. Já as cotações
do arroz tiveram alta de 86%, as
da soja, 65% e as do milho, 61%.
Em média, as cotações dos produtos básicos aumentaram 35%
nos últimos 12 meses.
Esse choque de preços tem várias causas: aumento da demanda, queda nos estoques, problemas de oferta. Mas, por trás desse processo, há também movimentos exclusivamente financeiros. Após a ruptura da bolha
imobiliária americana, a taxa de
juros básica dos EUA despencou,
e o dólar se desvalorizou mais. Os
grandes investidores mundiais
passaram a assumir volumes
crescentes de contratos em bolsas de mercadorias e futuros.
Até nome já se cunhou para esses aplicadores: são os "especuladores de índices", pois perseguem o rendimento das 25 principais commodities mundiais.
Ocorre que o preço no mercado
futuro é referência para os valores cobrados à vista pelos produtores dessas mercadorias. Quando o primeiro sobe, os segundos
também se elevam. Cotações futuras em alta atraem mais investidores, e uma bolha se infla.
Essa alta renitente tem sido repassada aos consumidores, elevando as taxas de inflação em escala mundial. Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor registrou variação de
0,6% no mês de maio e 4,9% em
12 meses. Excluindo energia
(28,2%) e alimentos (6,2%), o
núcleo da inflação anual foi de
1,8%. Na Alemanha, o índice ao
consumidor de maio chegou a
3,1% em 12 meses. Na China, o
aumento nos preços dos alimentos alcançou 22,1% em abril.
Diante das pressões inflacionárias, o banco central americano indicou que vai parar de reduzir seus juros básicos, hoje em
2% ao ano. Já a remuneração dos
títulos do Tesouro dos EUA de 10
anos, referência mundial para os
juros cobrados de tomadores finais, estão em alta. De 3,3% ao
ano no fim de março, chegou a
4,3% na sexta. O Banco Central
Europeu revelou disposição de
aumentar sua taxa básica.
Preços e juros em alta reforçam a tendência de desaquecimento econômico, o que deveria
contribuir para o declínio da inflação. Todavia as aplicações especulativas nos mercados futuros sustentam os preços altos.
O risco é que, em algum momento, essa dicotomia se desfaça
abruptamente, com os especuladores fugindo em manada de
suas aplicações em commodities, rumo aos títulos públicos
mais confiáveis do planeta. Seria
o estouro da bolha, com prejuízos ponderáveis para os países
que exportam produtos básicos.
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