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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Fantasia e miséria na Copa
SÃO PAULO - O momento mais
emocionante do jogo entre Brasil e
Coreia do Norte, ontem, aconteceu
antes que a bola rolasse. Foi durante a execução do hino do país adversário, quando as câmeras flagraram o atacante Jong Tae-se se debulhando em lágrimas. A expressão
de choro permaneceu em seu rosto
durante a partida. Se ele jogasse como chora, estaríamos fritos.
Medíocre, sem brilho, apático,
previsível. O Brasil fez uma estreia
sofrível na Copa do Mundo. Tostão
e Paulo Vinícius Coelho saberão explicar mais e melhor as deficiências
dessa seleção de gladiadores. Mas
mesmo aí, nessa identidade de
"guerreiros da pátria" que foi forjada, com a mão de Dunga, para fins
de mercado, há um abismo entre o
que a propaganda vende e a mercadoria que foi entregue em campo.
A culpa, claro, não é dos atletas
que lá estão. Vários deles, meninos
assustados, visivelmente no limite
das suas capacidades.
A seleção de Dunga é inimiga da
fantasia. Isso torna mais flagrante,
como ficou claro mais uma vez, o
divórcio entre o que acontece dentro de campo e a parafernália de expectativas e entretenimento que se
cria em torno dele. O business da
Copa pede algo que o jogo não dá.
Mas que é preciso arrancar dele ainda assim, nem que seja no gogó.
E ninguém exprime melhor essa
necessidade do que Galvão Bueno,
dublê de locutor esportivo e animador do país. Mal termina o jogo e a
Globo nos oferece uma sequência
de imagens tediosamente iguais da
massa espremida em praça pública
e se acabando ao som de alguma
música ruim país afora.
Os clichês da brasilidade então
inundam a tela: é o bundalelê do
cantor Latino em São Paulo, é "essa
coisa gostosa nas areias de Copacabana que contagia o país inteiro", é
"a chuva que não esfria o coração
pernambucano".
Tudo somado, é muita fantasia
na TV para um espetáculo tão miserável. Ou muita miséria na TV para
tão pouca fantasia em campo. Confundir tudo é a alma do negócio.
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