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ANTONIO DELFIM NETTO
É hora da indústria
A partir dos anos 50, construímos uma estrutura industrial muito sofisticada para o
nosso padrão de desenvolvimento. A indústria de bens de
capital foi fundamental para o
rápido crescimento dos anos
50/80. Sem ela, teríamos tido
muita dificuldade para expandir a matriz energética e construir Itaipu e Tucuruí.
Nosso desenvolvimento foi
feito por empresas (nacionais
e estrangeiras) que tomaram o
risco de aqui se instalar na esperança de que o rápido crescimento de 1950/80 (7,4% ao
ano) prosseguiria. Mas não foi
assim. Um fenomenal aumento do petróleo levou à falência
todas (sem exceção) as economias emergentes que dependiam de sua importação.
Quando a elevação da inflação nos EUA levou ao ajuste
Volker, em 1979, as taxas de
juros reais atingiram níveis
impensáveis, o que ajudou a
desintegrar as finanças públicas daqueles países.
O caso brasileiro é exemplar: em 1980, nossa produção
de petróleo atendia 20% do
consumo. A situação ficou tão
desesperadora que se chegou
a imprimir na Casa da Moeda
um "cartão de racionamento"
de combustíveis. Felizmente,
um ataque de lucidez de última hora impediu o seu uso.
Pois bem. Após a tragédia,
aquelas indústrias amargaram 30 anos de vacas magras,
com um crescimento médio do
PIB de 2,4% de 1981 a 2009.
Algumas sucumbiram. Outras resistiram e continuaram
a produzir no "estado da arte",
mas prejudicadas pela falta de
demanda.
No período, a carga tributária passou de 24% para 36%
do PIB, e o investimento público caiu de 4% para 1,5%. O setor privado ajustou-se aos programas de equilíbrio monetário e fiscal, suportando uma
taxa de juro real estratosférica
e uma taxa de câmbio real
sobrevalorizada.
A partir do segundo mandato de Lula, abriu-se uma janela: o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) recuperou o papel do "Estado indutor" e reacendeu o "espírito
animal" do nosso empresariado. Se soubermos usar o "bônus" do pré-sal, poderemos
rodar a uma taxa de 5% a 6%
nos próximos anos sem desequilíbrio interno ou externo.
Agora é hora de voltar a
usar a capacidade produtiva
da indústria de bens de capital
instalada no Brasil e não se
deixar iludir por mirabolantes
financiamentos chineses.
Não se deve, por exemplo,
levar em conta apenas o preço
na compra de uma turbina.
Produzida no Brasil, ela gera
substanciais externalidades
que não podem ser apropriadas privadamente.
Se não entendermos isso, as
indústrias que têm fábricas no
Brasil e na China e, logo, a
mesma tecnologia, por que
permanecerão aqui?
E como sobreviverá a indústria nacional?
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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