São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Mulher do Lula. Para sempre?

SÃO PAULO - Não consigo entender a lógica por trás do esforço de muita gente boa em anunciar o divórcio entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
Uso divórcio de propósito, porque levo em conta que Dilma é a "mulher de Lula", conforme se ouve na base da pirâmide social, de acordo com o relato de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, meu guru favorito.
No sentido político, Dilma é a Eva tirada da costela do Adão da Silva. Dilma só existe, como presidente, porque Lula a fez ministra, primeiro de Minas e Energia, depois da Casa Civil, depois a fez candidata e, por fim, elegeu-a com os votos que seriam dele, não dela. Tudo isso é recente demais para que tenha sido esquecido e se possa especular com o divórcio.
A pesquisa Datafolha publicada no domingo mostra que o divórcio nem é necessário aos olhos do grande público: 77% acham que Lula participa das decisões do governo Dilma. Mais: 64% acham que tem mesmo que participar. Fica claro, pois, que quem torce pelo divórcio é a minoria que faz restrições a Lula, algumas justificadas, outras por puro preconceito.
Por quê Lula não deveria participar do governo Dilma, ainda que de fora, se Dilma participou do governo Lula e a parceria foi um colossal sucesso de público?
É evidente que há diferenças entre o padrinho e a afilhada, a principal das quais é o fim da crispação a que Lula conduzira a política brasileira. A carta da presidente a Fernando Henrique Cardoso é a mais forte demonstração de que Dilma está se esforçando para introduzir a civilização em um ambiente que o antecessor tornara tosco demais.
Mas não dá para confundir essa mudança com um divórcio. Na prática, parece muito mais a aplicação prática da filosofia de Ortega y Gasset: Dilma é ela e suas circunstâncias, naturalmente diferentes, uma e outras, das de Lula.

crossi@uol.com.br


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