São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Mulheres do sabonete Araxá

RIO DE JANEIRO - Leitores reclamam de que eu me declaro ignorante, sobretudo em política, mesmo assim continuo dando palpites e, pior, sendo pago para isso.
Não consigo me entusiasmar porque dona Dilma escreveu carta felicitando FHC pelos seus 80 anos. Acredito que o ex-presidente mereça os augúrios de praxe, mas fico pasmo ao saber que os cientistas sociais e políticos, os cobras do jornalismo opinativo, interpretam, explicam e profetizam complicadas ações e reações na vida nacional.
Por mais que me esforce e apele para fatigados neurônios, não mereço perceber o recado de tal atitude presidencial, se é que houve recado mesmo. Deixo de bom grado a descoberta aos entendidos que também são pagos para isso.
Na crônica anterior, a propósito das três mulheres que agora nos guiam e regem, citei famoso poema de Manuel Bandeira, "Balada das três mulheres do sabonete Araxá". Ali pelos anos 1930, descobriram que havia uma lama medicinal em Araxá (MG), que rejuvenescia as mulheres, curava reumatismo e outros males congêneres. Logo fizeram sabonetes com a milagrosa lama e os marqueteiros da época bolaram anúncios que inundavam bondes, ônibus, cobriam a cidade com outdoors imensos do sabonete, onde apareciam os rostos de três mulheres cuja beleza fora produzida, mantida e ampliada pela fantástica lama de Araxá.
Manuel Bandeira, no início de nosso modernismo literário, fez a balada que se tornou sucesso: "As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam./ Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!/ O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!".
Se o poeta fosse vivo, não perderia a oportunidade de fazer outra balada para as três mulheres que nem precisam de um sabonete assombroso para brilharem às 4 horas da tarde.


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