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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Canelinhas
de Ouro
JÁ FOI O TEMPO em que o futebol era uma das minhas paixões: euforia com as vitórias e
tristeza com as derrotas. Com o
passar dos anos fui me desligando,
talvez por ser corintiano e ter
amargado tantos campeonatos
frustrados. Mas nunca deixei de
apreciar o belo esporte.
Há pouco tempo li uma bela reportagem no último número da revista "National Geographical Magazine" sobre a evolução do futebol
no mundo, onde os vários articulistas destacam as peculiaridades de
cada nação. No capítulo reservado
ao Brasil, os comentários são os
mais lisonjeiros, a começar pelo título da matéria, que diz: "Brasil,
um ballet com a bola".
Apesar de a revista ser de junho
de 2006, a reportagem foi elaborada antes da Copa do Mundo. Penso
que o tom seria bem diferente depois do grande fiasco que nossos
jogadores e equipe técnica aprontaram na Alemanha.
Frustrado como todo brasileiro,
tinha prometido não tocar mais
nesse assunto. Mas um telefonema
da minha amiga de infância, a professora Joaninha, fez acender em
mim a chama da revolta e do inconformismo. Achando que eu me
mantinha como o mesmo entendido da nossa juventude, ela queria
saber o que eu pensava sobre o papel tão melancólico da nossa seleção.
Disse a ela que não sou técnico
de futebol nem entendo tanto
quanto entendia no passado. Mas
considerei a derrota do Brasil para
a França uma decorrência da falta
de articulação e entrosamento dos
jogadores, ao que ela me respondeu:
"Eu entendo menos ainda. Mas
não precisa ser especialista para
ver que uma vergonhosa falta de
garra dominou as nossas "canelinhas de ouro" naquele jogo contra
os franceses. Aliás", aduziu ela,
"por que haveriam eles de suar a
camisa se cada um já garantiu sua
vida individualmente, jogando e
ganhando como estrela de quinta
grandeza nos times da Europa?"
Pensei bem e achei que, na sua
pretensa ignorância de futebol,
Joaninha tem razão: quem plasma
a sua vida como estrela individual
perde a capacidade de jogar em
equipe. Isso vale para o esporte assim como vale para o trabalho. No
caso dos jogadores, os milionários
contratos que têm lhes garante,
por anos a fio, uma vida segura e
confortável, o que empurra para o
segundo plano a vitória que seu povo espera.
O assunto já é café requentado.
Mas, instigado pela amiga, me veio
a vontade de pôr para fora a minha
profunda decepção e lançar um
apelo aos nossos cartolas para que
tirem uma boa lição desse retumbante fracasso.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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