São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Canelinhas de Ouro

JÁ FOI O TEMPO em que o futebol era uma das minhas paixões: euforia com as vitórias e tristeza com as derrotas. Com o passar dos anos fui me desligando, talvez por ser corintiano e ter amargado tantos campeonatos frustrados. Mas nunca deixei de apreciar o belo esporte.
Há pouco tempo li uma bela reportagem no último número da revista "National Geographical Magazine" sobre a evolução do futebol no mundo, onde os vários articulistas destacam as peculiaridades de cada nação. No capítulo reservado ao Brasil, os comentários são os mais lisonjeiros, a começar pelo título da matéria, que diz: "Brasil, um ballet com a bola".
Apesar de a revista ser de junho de 2006, a reportagem foi elaborada antes da Copa do Mundo. Penso que o tom seria bem diferente depois do grande fiasco que nossos jogadores e equipe técnica aprontaram na Alemanha.
Frustrado como todo brasileiro, tinha prometido não tocar mais nesse assunto. Mas um telefonema da minha amiga de infância, a professora Joaninha, fez acender em mim a chama da revolta e do inconformismo. Achando que eu me mantinha como o mesmo entendido da nossa juventude, ela queria saber o que eu pensava sobre o papel tão melancólico da nossa seleção.
Disse a ela que não sou técnico de futebol nem entendo tanto quanto entendia no passado. Mas considerei a derrota do Brasil para a França uma decorrência da falta de articulação e entrosamento dos jogadores, ao que ela me respondeu:
"Eu entendo menos ainda. Mas não precisa ser especialista para ver que uma vergonhosa falta de garra dominou as nossas "canelinhas de ouro" naquele jogo contra os franceses. Aliás", aduziu ela, "por que haveriam eles de suar a camisa se cada um já garantiu sua vida individualmente, jogando e ganhando como estrela de quinta grandeza nos times da Europa?"
Pensei bem e achei que, na sua pretensa ignorância de futebol, Joaninha tem razão: quem plasma a sua vida como estrela individual perde a capacidade de jogar em equipe. Isso vale para o esporte assim como vale para o trabalho. No caso dos jogadores, os milionários contratos que têm lhes garante, por anos a fio, uma vida segura e confortável, o que empurra para o segundo plano a vitória que seu povo espera.
O assunto já é café requentado. Mas, instigado pela amiga, me veio a vontade de pôr para fora a minha profunda decepção e lançar um apelo aos nossos cartolas para que tirem uma boa lição desse retumbante fracasso.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Plínio Fraga: São Paulo não pode parar
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.