São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

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IGOR GIELOW

A queda de Queiroz

BRASÍLIA - O afastamento do delegado Protógenes Queiroz do caso Daniel Dantas, cujas circunstâncias não estão claras ainda, está longe de ser casual. A desculpa oficial de que ele vai fazer um curso não cola, não menos porque a possibilidade de ele ser enquadrado devido ao seu comportamento na condução do caso já era amplamente discutida em Brasília.
Queiroz cometeu diversos erros e exageros. A leitura de seu caudaloso relatório transparece o trabalho de uma mente enevoada por um voluntarismo messiânico que fez lembrar os "bons tempos" do procurador Luiz Francisco de Souza -aquele cruzado contra os excessos tucanos que, curiosamente, amansou sob o governo Lula.
Não importa que ele não saiba escrever em português compreensível; assusta que ele acredite representar "o bem" em uma batalha. Isso é inaceitável na condução de uma função de Estado. As decorrências legais são as conhecidas: abusos e ilações paranóicas.
Mas não foi isso que derrubou Queiroz. Imerso em seu personagem quixotesco, ele ignorou superiores, para dizer o mínimo. Fez a investigação do jeito que achou melhor, e assim alienou o entorno policial de seus detalhes. De quebra, não é da patota que manda na PF hoje. Isso é fatal numa corporação tão dada a controle e ao poder das panelinhas.
Isso dito, a pergunta que resta agora é outra. Seu afastamento irá refrear as investigações sobre Daniel Dantas? A escandalosa tentativa de suborno de um delegado federal terá sua elucidação abafada? Toda a rede de influência do banqueiro em diversas esferas do poder brasileiro, ainda que apenas arranhadas de forma pouco convincente no inquérito, deixará de ser alvo de apuração?
A partir da resposta, saberemos a real extensão do medo que Dantas provoca no poder. A investigação tem que continuar.

igielow@folhasp.com.br


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