São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009

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KENNETH MAXWELL

Imprudências da imprensa

A IMPRENSA se tornou assunto importante. No Reino Unido, o "Guardian" saiu ao ataque, alegando que o "News of the World" estava investigando de maneira inescrupulosa astros do esporte e outras celebridades.
As manchetes que o "News of the World" trazia em uma edição desta semana bastam para mostrar o problema: "Os Beckham: veja fotos das férias de Posh e Becks". Abaixo, a revelação de que a irmã de Michael Jackson acredita que ele foi assassinado. Depois, "Topless: foto do terceiro mamilo de Lily Allen".
Mas a acusação mais séria do "Guardian" era que o "News of the World" não havia deixado de lado suas operações de pirataria telefônica e de obtenção de informações sob falsos pretextos. E tampouco havia deixado de utilizar investigadores particulares para obter acesso ilegal a dados pessoais como registros tributários, extratos bancários e contas telefônicas detalhadas de ministros, parlamentares, atores e figuras do esporte.
A história se estende a Nova York. O "News of the World" é controlado pela News International., de Rupert Murdoch, que controla o "Wall Street Journal" e o "New York Post". Executivos do império mundial de mídia vêm sendo intercambiáveis. Les Hinton, por exemplo, ex-presidente do conselho da News International, agora trabalha em Nova York como presidente-executivo da Dow Jones, a controladora do "Wall Street Journal".
As acusações do "Guardian" tem implicações políticas. O líder do Partido Conservador, David Cameron, alardeado como futuro primeiro-ministro britânico pela revista do "New York Times", contratou o executivo Alan Coulson, antigo editor do "News of the World". Coulson deixou o jornal em 2007 depois de revelações sobre as técnicas de reportagem escusas utilizadas entre 2003 e 2007. O "editor de assuntos da realeza", Clive Goodman, e o investigador particular Glenn Mulcaire foram detidos e condenados à prisão por escutas ilegais em telefones de membros da família real. O "Guardian" acusa o News Group Newspapers, subsidiária da News International que publica o "News of the World", de ter pago US$ 1,6 milhão em um recente acordo extrajudicial para encerrar processos movidos por pessoas contra as quais praticou espionagem.
O jornal "Washington Post" também sofreu embaraços. Planejava realizar "saraus" na casa da diretora editorial Katherine Weymouth. Por US$ 25 mil, profissionais de lobby e executivos receberam a promessa de acesso privilegiado a membros do governo Obama, do Congresso e a repórteres da publicação. Quando a oferta chegou ao conhecimento do público, o jornal rapidamente recuou.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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