São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2010

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JOSÉ SARNEY

Deng e Bolívar

A autoestima volta. É isso que nos diz o Latinobarómetro, que faz periódicas aferições sobre a América do Sul, com a benção da ONU, através do PNUD. Certa vez escrevi aqui a perplexidade em que o barômetro nos colocava ao mostrar que o nosso povo não aprovava a democracia e preferia um governo autoritário que lhe desse boa vida.
Agora, vários anos pesquisando, é possível mostrar que estamos mudando, não somente o Brasil, mas nossos vizinhos. Há um grau de satisfação com a família, a vida, o país, o mundo, achando que tudo está melhorando. Os números são tão altos que assustam: 94% estão felizes com suas famílias e 75% dizem que o Brasil está no rumo correto.
O pessimismo está desaparecendo e aquela história do mau humor com nossa terra está ficando para trás. Diminui a miséria, a classe média aumenta e o sentimento é de que demos adeus ao pessimismo, o velho cacoete de que estamos à beira do abismo.
Dizem os pesquisadores que as zonas dos emergentes são as únicas do mundo em que isso acontece. A velha Europa afunda numa tristeza de dar desgosto. Os Estados Unidos não saíram da sua crise econômica e surge outra crise: a existencial.
É possível estabelecer mesmo uma regra de que, quando você acha o mundo melhor que seu país, é desejo de emigrar. Já o contrário nos leva a ser um país de receber imigrantes. O Brasil agora vê os que emigraram voltando, achando que as coisas aqui estão melhor que lá fora.
Até os EUA se beneficiaram desse clima brasileiro. Nós, que tínhamos uma permanente idiossincrasia com eles, já os vemos (74%) de uma maneira positiva. Já com o Japão baixamos para 64% e em relação à União Europeia a 62%.
Cambian las suertes, como dizem os espanhóis. No tempo em que governei, o grande problema era tentar acabar com o forte sentimento antiamericano. Hoje, além de ter boa opinião deles, 67% creem que eles têm respeito ao Brasil.
Outro dado interessante é que são dos jovens os mais altos índices, mostrando que veem a vida com menos emoção e mais razão. São menos críticos e já ultrapassaram aquela fase de que ser jovem é ser revolucionário e revoltado.
Confesso que não sei se é um bem ou um mal, como dizem os chineses na sua visão das contradições. Foi a velha juventude das utopias que moveu o mundo para melhorar. Vamos em frente. China, Brasil, Índia, Rússia, África do Sul vivem sua melhor fase.
Hora dos emergentes, a cultivar esperanças e certezas sobre o futuro. O Barômetro também nos avisa que a Venezuela é onde os mais altos índices de pessimismo resistem no continente. Ponto para Deng Xiaoping.


JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.

jose-sarney@uol.com.br


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