|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Deng e Bolívar
A autoestima volta. É isso
que nos diz o Latinobarómetro, que faz periódicas aferições sobre a América do Sul,
com a benção da ONU, através
do PNUD. Certa vez escrevi
aqui a perplexidade em que o
barômetro nos colocava ao
mostrar que o nosso povo não
aprovava a democracia e preferia um governo autoritário
que lhe desse boa vida.
Agora, vários anos pesquisando, é possível mostrar que
estamos mudando, não somente o Brasil, mas nossos vizinhos. Há um grau de satisfação com a família, a vida, o
país, o mundo, achando que
tudo está melhorando. Os números são tão altos que assustam: 94% estão felizes com
suas famílias e 75% dizem que
o Brasil está no rumo correto.
O pessimismo está desaparecendo e aquela história do
mau humor com nossa terra
está ficando para trás. Diminui a miséria, a classe média
aumenta e o sentimento é de
que demos adeus ao pessimismo, o velho cacoete de que estamos à beira do abismo.
Dizem os pesquisadores
que as zonas dos emergentes
são as únicas do mundo em
que isso acontece. A velha Europa afunda numa tristeza de
dar desgosto. Os Estados Unidos não saíram da sua crise
econômica e surge outra crise:
a existencial.
É possível estabelecer mesmo uma regra de que, quando
você acha o mundo melhor
que seu país, é desejo de emigrar. Já o contrário nos leva a
ser um país de receber imigrantes. O Brasil agora vê os
que emigraram voltando,
achando que as coisas aqui estão melhor que lá fora.
Até os EUA se beneficiaram
desse clima brasileiro. Nós,
que tínhamos uma permanente idiossincrasia com eles, já
os vemos (74%) de uma maneira positiva. Já com o Japão
baixamos para 64% e em relação à União Europeia a 62%.
Cambian las suertes, como
dizem os espanhóis. No tempo
em que governei, o grande
problema era tentar acabar
com o forte sentimento antiamericano. Hoje, além de ter
boa opinião deles, 67% creem
que eles têm respeito ao Brasil.
Outro dado interessante é
que são dos jovens os mais altos índices, mostrando que
veem a vida com menos emoção e mais razão. São menos
críticos e já ultrapassaram
aquela fase de que ser jovem é
ser revolucionário e revoltado.
Confesso que não sei se é
um bem ou um mal, como dizem os chineses na sua visão
das contradições. Foi a velha
juventude das utopias que
moveu o mundo para melhorar. Vamos em frente. China,
Brasil, Índia, Rússia, África do
Sul vivem sua melhor fase.
Hora dos emergentes, a cultivar esperanças e certezas sobre o futuro. O Barômetro também nos avisa que a Venezuela é onde os mais altos índices
de pessimismo resistem no
continente. Ponto para Deng
Xiaoping.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Ex-tudo Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Rebecca Reichmann Tavares: Basta à violência contra as mulheres Índice
|