|
Próximo Texto | Índice
LULA E A MÍDIA
É reconfortante saber que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ainda defende a mídia livre, como ele próprio fez questão de afirmar em discurso pronunciado anteontem no congresso da ANJ (Associação Nacional de Jornais) em São
Paulo. As palavras do presidente em
defesa do direito à informação, contudo, não substituem ações concretas que ele ainda pode tomar em favor da preservação da plena liberdade de imprensa. De fato, Lula perdeu
uma excelente ocasião para anunciar
que retiraria do Congresso projeto de
lei enviado pelo Executivo que cria o
Conselho Federal de Jornalismo.
São gritantes e já foram expostos os
riscos de um órgão vinculado à estrutura do Estado assumir a tarefa de
"orientar, disciplinar e fiscalizar o
exercício da profissão de jornalista e
da atividade de jornalismo". E a desconfiança vira temor quando se considera que o que é legalmente relevante para o exercício do jornalismo
já está inscrito na Constituição. A
Carta assegura a livre manifestação
do pensamento (art. 5º, IV), o acesso
à informação e o sigilo de fonte (5º,
XIV) e, na outra ponta, o direito de
resposta proporcional ao agravo e a
indenização por dano material, moral ou à imagem (5º, V).
Embora o presidente tenha se manifestado a favor da livre expressão, é
forçoso reconhecer que o Planalto
vem se lançando numa série de empreitadas perigosas com o traço comum de tentar silenciar e submeter
forças incômodas ao Executivo. A
criação do CFJ se enquadra nesse
contexto, ao lado de outras medidas
de caráter despótico, como as investidas para assumir controles indevidos sobre a produção audiovisual,
proibir funcionários públicos de falar com jornalistas ou promover a
"flexibilização" dos sigilos bancário
e fiscal de empresas.
Em vez de apenas enaltecer o papel
da imprensa, o presidente Lula faria
melhor se retirasse a proposta, reconhecendo que a criação do CFJ é fruto bastardo de um arroubo corporativo que não tem razão de ser.
Próximo Texto: Editoriais: DECISÃO EQUIVOCADA Índice
|