São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Por uma escola de paz
JORGE WERTHEIN
Conforme dados preliminares da Pesquisa de Vitimização nas Escolas 2003, realizada pela Unesco em escolas da rede pública de cinco capitais (Belém, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo), 83,4% dos alunos entrevistados afirmam que existe violência na escola; 69,4% dizem que ocorrem furtos no ambiente escolar; e cerca de 37% alegam terem sido vítimas de furto uma ou mais vezes. Além disso, 21,7% dizem já ter visto canivetes no ambiente escolar e 12,1%, revólveres. Como combater a violência e aumentar a segurança no ambiente escolar? Uma das medidas apontadas seria a presença da Polícia Militar nos estabelecimentos de ensino. Pesquisas realizadas em vários países demonstram, no entanto, que isso tem feito com que os professores se eximam da responsabilidade de supervisionar e de interagir com os alunos, sobretudo em situações de conflito. Isso faz com que se distanciem cada vez mais dos estudantes, o que contribui para que os atos violentos não sejam resolvidos e até sejam potencializados. É imprescindível que as escolas ofereçam ações educativas, preventivas e de promoção da paz, que ajudem a melhorar a auto-estima dos alunos e a aumentar o envolvimento dos professores e da comunidade. Crianças e jovens precisam voltar a enxergar a escola como um local agradável de aprendizado e de troca de experiências que os leve ao sucesso na vida adulta. Os pais e as comunidades deveriam ter de novo o sentimento de pertencimento e de identidade com a escola. Assim, o espaço escolar voltaria a ser visto como um "porto seguro" a ser preservado, constituindo-se em fonte de esperança dos jovens por um futuro melhor. A abertura de escolas nos finais de semana para a comunidade, com atividades de cultura, lazer e esporte -criada por meio do Programa Abrindo Espaços, lançado em 2000 pela Unesco-, demonstra ter forte impacto positivo no resgate da imagem da escola, na melhoria da qualidade do aprendizado de crianças e jovens e na redução da violência no espaço escolar e no seu entorno. O Programa Escola da Família, realizado em parceria com a Secretaria de Educação de São Paulo, atraiu 51 milhões de paulistas às 5.306 escolas que fazem parte dele. De janeiro a maio de 2004, a incidência de atos violentos contra a pessoa (homicídios e brigas entre alunos) e contra o patrimônio (pichações e depredações) caiu 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Pelo seu sucesso, o programa de abertura das escolas aos sábados e domingos está sendo adotado pelo governo federal em uma estratégia nacional. Por meio de uma parceria da Unesco com os ministérios da Educação, do Trabalho e Emprego, da Cultura e do Esporte, será desenvolvido, a partir de outubro, o Escola Aberta, começando por 200 escolas públicas. É com a união de esforços em prol de uma escola de qualidade, que reúna comunidade escolar, governo e sociedade, que o Brasil conseguirá superar as deficiências na educação, construir ambientes escolares mais pacíficos e promover uma cultura de paz que ajude o país no seu desenvolvimento. Jorge Werthein, 62, sociólogo, doutor em educação pela Universidade Stanford (Estados Unidos), é representante, no Brasil, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Denis Lerrer Rosenfield: São Malan Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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