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IGOR GIELOW
No mundo de Lula
BRASÍLIA - Pouco antes da viagem aos países nórdicos, Lula foi
entrevistado por jornalistas escandinavos. Um deles, uma repórter
finlandesa, veio à Sucursal da
Folha em Brasília para conversar
sobre o objeto de seu trabalho.
Bem preparada, não via Lula com
aquele misto de admiração genuína
e curiosidade antropológica comum na imprensa estrangeira
quando o tema é a tentadora história do torneiro mecânico que saiu
da miséria para o Planalto. Sabia a
pronúncia e, principalmente, o significado do termo "mensalão".
Perguntou sobre o estilo de Lula
e indicadores socioeconômicos. Falei genericamente sobre os defeitos
e virtudes da figura pública do petista e sobre a evolução vegetativa
do Brasil real -fora um sucesso
aqui, outro acolá. Foi inescapável
lembrar da conversa anteontem,
quando acabou o giro escandinavo
de Lula e foram divulgados os novos dados do IBGE com a radiografia do país, a Pnad.
Lula falou no exterior de um país
dinâmico, a terra do futuro. Sobrou
tempo até para momentos imperiais: elogios a monarquias e a típica soberba dos autocratas ao fechar
a cara a uma pergunta sobre política brasileira na Noruega. Os EUA
têm que aprender conosco: quando
viaja, Bush tem que falar sobre quase tudo, que absurdo!
Enquanto isso, a Pnad trazia a
realidade. A renda, em R$ 888 mensais, ainda está longe dos patamares de 1996, os 10% mais pobres
respondiam por 1% do bolo dos
rendimentos, deixando 44% para
os 10% mais ricos. Há boas notícias,
naturalmente, mas falta muito.
Uma vez indagado sobre o que faria se ganhasse um salário mínimo,
o último autocrata da ditadura, general João Figueiredo, disse candidamente que "daria um tiro no coco". Não se espera tal franqueza ou
disposição de Lula, felizmente. Mas
gostaria de saber sua opinião sobre
o país, aqui ou lá fora, se ele ganhasse R$ 888 todo mês.
igielow@folhasp.com.br
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