São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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IGOR GIELOW

No mundo de Lula

BRASÍLIA - Pouco antes da viagem aos países nórdicos, Lula foi entrevistado por jornalistas escandinavos. Um deles, uma repórter finlandesa, veio à Sucursal da Folha em Brasília para conversar sobre o objeto de seu trabalho.
Bem preparada, não via Lula com aquele misto de admiração genuína e curiosidade antropológica comum na imprensa estrangeira quando o tema é a tentadora história do torneiro mecânico que saiu da miséria para o Planalto. Sabia a pronúncia e, principalmente, o significado do termo "mensalão".
Perguntou sobre o estilo de Lula e indicadores socioeconômicos. Falei genericamente sobre os defeitos e virtudes da figura pública do petista e sobre a evolução vegetativa do Brasil real -fora um sucesso aqui, outro acolá. Foi inescapável lembrar da conversa anteontem, quando acabou o giro escandinavo de Lula e foram divulgados os novos dados do IBGE com a radiografia do país, a Pnad.
Lula falou no exterior de um país dinâmico, a terra do futuro. Sobrou tempo até para momentos imperiais: elogios a monarquias e a típica soberba dos autocratas ao fechar a cara a uma pergunta sobre política brasileira na Noruega. Os EUA têm que aprender conosco: quando viaja, Bush tem que falar sobre quase tudo, que absurdo!
Enquanto isso, a Pnad trazia a realidade. A renda, em R$ 888 mensais, ainda está longe dos patamares de 1996, os 10% mais pobres respondiam por 1% do bolo dos rendimentos, deixando 44% para os 10% mais ricos. Há boas notícias, naturalmente, mas falta muito.
Uma vez indagado sobre o que faria se ganhasse um salário mínimo, o último autocrata da ditadura, general João Figueiredo, disse candidamente que "daria um tiro no coco". Não se espera tal franqueza ou disposição de Lula, felizmente. Mas gostaria de saber sua opinião sobre o país, aqui ou lá fora, se ele ganhasse R$ 888 todo mês.

igielow@folhasp.com.br

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