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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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A FRENTE SÍRIA

A recente incursão militar israelense em território sírio pode inaugurar uma nova fase no xadrez do Oriente Médio. Embora a Síria possa ser hoje considerada o pior inimigo de Israel, os dois países vinham mantendo uma respeitosa distância ao longo das últimas décadas. A área de fronteira entre ambos manteve-se relativamente tranquila, e os enfrentamentos, quando havia, se davam em território libanês.
A decisão de Sharon de atacar um alvo na Síria em resposta a um atentado palestino na cidade israelense de Haifa rompeu o "statu quo". Resta saber se essa foi uma ação isolada ou se, na eventualidade de mais um ataque terrorista, os aviões israelenses voltarão a atingir a Síria. Se isso de fato ocorrer, terá sido aberta uma nova frente de batalha, possivelmente mais política do que militar.
Em termos estritamente militares, Israel reina soberano na região. No último enfrentamento direto entre forças israelenses e sírias, na invasão do Líbano, ocorrida em 1982, Damasco perdeu 79 aviões contra nenhum do lado israelense. De lá para cá, o poderio bélico sírio só se reduziu, principalmente após o colapso da URSS, em 1991.
Em termos políticos, porém, seria difícil para o presidente Bashar Assad não reagir a um segundo ataque. Muito de sua autoridade repousa na idéia de que a Síria é a grande linha de força árabe contra Israel.
O premiê israelense Ariel Sharon parece apostar justamente nessa ambiguidade do poder sírio: ser forte o bastante para ter o dever de reagir, mas não o suficiente para fazê-lo de fato. É uma forma de aliviar um pouco a pressão da população de Israel sobre seu governo diante da impossibilidade de acabar com os atentados suicidas palestinos.
No mais, as relações entre Damasco e Washington vêm se deteriorando rapidamente. Um passo em falso de Assad pode levar Bush a ações hoje quase impensáveis. Sem o Iraque e sem a Síria, já não haveria nem sombra para o poder israelense na região.


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