UOL




São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAINEL DO LEITOR

México e Alca
"Na reportagem "Lula decide moderar discurso sobre a Alca" (Dinheiro, pág. B1, 14/10), situou-se o México como um dos países que estão "a favor dos Estados Unidos". Essa afirmação vem se repetindo desde a última reunião de Porto España, na qual um grupo de países -entre os quais o México- assinou um documento a favor de uma Alca abrangente. Será que, se algum país está a favor de uma Alca abrangente, distinta da proposta brasileira, isso já o define como estando "a favor dos Estados Unidos'? Não recorda isso um pouco aquele maniqueísmo que diz "ou estás comigo, ou estás contra mim'? É muito simples: na Alca, o México está a favor do México e de uma maior integração econômica do continente e, por isso, tem uma posição diferenciada da dos outros países. Por exemplo: o México e o Mercosul concordam em não incluir os temas trabalhistas e ambientais dentro da Alca -e nisso discordam da proposta dos Estados Unidos. Aliás, o México quer uma Alca abrangente não porque esteja "a favor dos Estados Unidos", mas porque os 11 tratados de livre comércio que temos com 32 países -e que têm sido experiências muito bem-sucedidas- já contêm as disciplinas propostas na Alca: compras governamentais, propriedade intelectual, investimento etc. Foram essas mesmas razões -de independência, de advogar por um comércio justo e de ter um projeto próprio- que fizeram o México se unir ao grupo G20 antes da reunião ministerial da OMC em Cancún e ratificar a sua pertinência."
Cecilia Soto, embaixadora do México no Brasil (Brasília, DF)

Olhar
"Achei excelente o artigo "O "olhar branco", de Marcelo Tragtenberg ("Tendências/Debates", pág. A3, 13/10). Democracia pressupõe igualdade na diversidade, ou seja, cada raça contribui para o desenvolvimento de seu país em relação à cultura e aos valores sociais de solidariedade, de tolerância e de reforço da identidade nacional. A herança escravocrata, que deixou marcas, está sendo apagada pelas conquistas dos últimos anos, mas ainda traz o atraso no acesso dos afrodescendentes às oportunidades de educação e de trabalho. O Brasil ocupa o 120º lugar do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) quando se considera apenas a população negra. Portanto é necessário implantar uma política de inclusão dessa parcela da população. E essa política de inclusão tem nome: ações afirmativas. Não basta apenas ser a favor das cotas para negros. É preciso aprofundar as ações iniciadas no governo de Fernando Henrique Cardoso. Precisamos avançar mais e ter mais mobilidade social. Como disse José Serra: "Se não houver progresso para todos, não haverá ordem para ninguém"."
Maria Aparecida de Laia, ex-presidente do Conselho da Condição Feminina e conselheira do Conselho da Comunidade Negra (São Paulo, SP)

Custo saúde
"A quem cabe realmente o custo de uma aposentadoria por invalidez? O INSS tem acumulado uma função que deve ser revista. Por exemplo: há um sem-número de bancários afastados de suas funções porque os banqueiros não oferecem condições dignas no ambiente de trabalho. É grande o número de funcionários que são acometidos por lesões ortomusculares, por distúrbios psíquicos, por traumas decorrentes de assaltos etc. Os banqueiros privatizam os lucros e socializam os prejuízos. Não aumentam o quadro de funcionários, não oferecem melhor atendimento à população (que padece com filas e tarifas) e não param de gerar doentes. Então, por que o Estado não atribui aos responsáveis o custo social que, erroneamente, transfere ao INSS?"
Odilon Antonio Menegusso (Limeira, SP)

Regime suspenso
"Fiquei, de certa forma, surpreso com o fato de o juiz Aimar Neres de Matos, da Vara de Execuções Criminais de Brasília, ter suspendido o regime semi-aberto dos assassinos do índio Galdino de Jesus após ele ter lido uma reportagem no "Correio Braziliense". Nós, leigos, temos a ingênua presunção de que há um acompanhamento direto do Judiciário de tudo o que diz respeito à vida do apenado. Contudo parece que não é assim. O consolo é que somos os penúltimos a saber."
Landro Oviedo (Porto Alegre, RS)

Água
"Quero cumprimentar e elogiar as declarações de Mário Thadeu Lemes de Barros, professor da Escola Politécnica da USP, publicadas ontem na reportagem "Para especialistas, Sabesp adia o inevitável" (Cotidiano, pág. C1), sobre a situação do abastecimento de água em São Paulo. É exatamente como disse o professor Barros: gerenciar reservatórios é um risco, e nós assumimos esse risco e tomamos, de fato, a decisão menos cômoda, a que menos prejudica a população. Isso porque, entre os fatores que não podem ser desprezados, como ele cita, é preciso saber respeitar a colaboração da população, que já ocorreu em diversas situações. Na mesma reportagem, no entanto, há manifestações que contestamos, como a do representante do Sindicato dos Funcionários da Sabesp. Houve, sim, uma mudança da situação -chuvas e colaboração da população- , que reduziu o consumo. E dizer que foi uma decisão política, como se não tivesse havido razão técnica, é simplesmente errar. Se tivesse sido uma decisão "política", teríamos feito o racionamento hoje para esconjurar a possibilidade de fazê-lo no próximo ano, que é um ano eleitoral. Quanto à afirmação da pesquisadora Marussia Whately, do Instituto Socioambiental, de que "a suspensão do racionamento adia uma crise inevitável", é importante que os leitores considerem -a crise já está aqui, mas ela só seria inevitável se estivéssemos no início da estação seca. Estamos tomando uma decisão num momento adequado e impondo o menor prejuízo possível à população."
Mauro Guilherme Jardim Arce , secretário de Estado de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Neurocirurgia
"Causa-me horror cada vez que o senhor Ivan Leite Albanese se pronuncia neste "Painel do Leitor". Já em 2001, esse senhor, que se acha detentor da sabedoria humana, criticou de maneira preconceituosa e sem conhecimento técnico os psicólogos. E o faz novamente agora, sempre defendendo práticas abusivas, controladoras e impositivas, como se o paciente fosse apenas mais um instrumento nas mãos dos médicos para o seu próprio engrandecimento. Talvez esse senhor ainda não saiba que psicólogo não é auxiliar de médico, e sim um profissional, com profissão regulamentada, com conselhos de classe e com técnicas próprias. Esse senhor acredita que o psicólogo não conheça as condutas médicas, e nisso tem razão, porém acredita que o médico conheça a conduta dos psicólogos e que possa controlar a atividade destes profissionais. Psicólogos não interferem nas práticas médicas que não ferem a dignidade e o respeito ao ser humano e buscam uma atuação ética que vise, primeiramente, o bem-estar do paciente."
Ilda Zaideman Azar (Sorocaba, SP)


Texto Anterior: Fred Ghedini: Ainda sobre a formação do jornalista

Próximo Texto: Erramos
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.