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Apesar de Bush
HÁ VÁRIAS maneiras de interpretar a decisão do Comitê Norueguês do Nobel
de premiar o ex-vice-presidente
dos EUA Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla inglesa) com o laurel da Paz.
Numa leitura imediatista, trata-se de mais um ataque a George Bush. Há sete anos no poder,
já recebeu três premiações que
podem ser interpretadas como
hostis à sua doutrina. A primeira
vez foi em 2002, com a indicação
do ex-presidente democrata
Jimmy Carter, severo crítico da
atual gestão. Na ocasião, o presidente do Comitê Norueguês,
Gunnar Berge foi explícito e disse que o galardão representava
um "chute na canela" de Bush.
Em 2005 foi a vez de a Agência
Internacional de Energia Atômica e seu chefe, Mohamed El Baradei, serem agraciados. El Baradei entrou em rota de colisão
com Bush várias vezes e contestou os dados apresentados pelos
EUA para invadir o Iraque.
Al Gore completa o ciclo. Trata-se, enfim, do homem que disputou com Bush a célebre eleição de 2000, que acabou sendo
definida não pelo voto, mas por
decisão da Suprema Corte.
Numa hermenêutica mais generosa, o comitê deu o prêmio a
Gore e ao IPCC porque eles o
merecem. O aquecimento atmosférico compromete recursos
naturais e deflagra movimentos
migratórios, o que atiça conflitos. Um dos mais sangrentos
atualmente em curso, o de Darfur (Sudão), tem origem na disputa por terras semidesérticas.
Sob essa perspectiva, Bush deixa de ser importante. Ele já está
com data marcada para deixar o
cargo (20/1/2009), e seu sucessor será obrigado a colocar a
questão ambiental no centro da
campanha. Essa tendência, que
já era forte, fica magnificada pela
premiação de Gore.
Apesar de Bush, a mudança climática entrou definitivamente
na agenda mundial.
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