São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Apesar de Bush

HÁ VÁRIAS maneiras de interpretar a decisão do Comitê Norueguês do Nobel de premiar o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla inglesa) com o laurel da Paz.
Numa leitura imediatista, trata-se de mais um ataque a George Bush. Há sete anos no poder, já recebeu três premiações que podem ser interpretadas como hostis à sua doutrina. A primeira vez foi em 2002, com a indicação do ex-presidente democrata Jimmy Carter, severo crítico da atual gestão. Na ocasião, o presidente do Comitê Norueguês, Gunnar Berge foi explícito e disse que o galardão representava um "chute na canela" de Bush.
Em 2005 foi a vez de a Agência Internacional de Energia Atômica e seu chefe, Mohamed El Baradei, serem agraciados. El Baradei entrou em rota de colisão com Bush várias vezes e contestou os dados apresentados pelos EUA para invadir o Iraque.
Al Gore completa o ciclo. Trata-se, enfim, do homem que disputou com Bush a célebre eleição de 2000, que acabou sendo definida não pelo voto, mas por decisão da Suprema Corte.
Numa hermenêutica mais generosa, o comitê deu o prêmio a Gore e ao IPCC porque eles o merecem. O aquecimento atmosférico compromete recursos naturais e deflagra movimentos migratórios, o que atiça conflitos. Um dos mais sangrentos atualmente em curso, o de Darfur (Sudão), tem origem na disputa por terras semidesérticas.
Sob essa perspectiva, Bush deixa de ser importante. Ele já está com data marcada para deixar o cargo (20/1/2009), e seu sucessor será obrigado a colocar a questão ambiental no centro da campanha. Essa tendência, que já era forte, fica magnificada pela premiação de Gore.
Apesar de Bush, a mudança climática entrou definitivamente na agenda mundial.


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