São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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MARCOS NOBRE

Cansei 2

HOJE É DIA de manifestação contra o governo Lula. Oficialmente batizado de "Tributo contra o Tributo", tem como reivindicação a extinção da CPMF.
Com atrações musicais de grande apelo popular, pretende levar nada menos que 2 milhões de pessoas ao vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo.
A organização está a cargo do movimento Frente Nacional da Nova Geração, liderada pelo empresário Ronaldo Koloszuk, 30, também diretor titular do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp, entidade que custeará o ato juntamente com a Associação Comercial de São Paulo. Como as manifestações do Cansei, também esse showmício não pretende ser um ato contra o governo e não permitirá faixas e cartazes de partidos.
Essa é uma das coisas difíceis de entender. É óbvio que o ato é contra o governo Lula. É óbvio que será apoiado por partidos e forças de oposição. Qual é o problema de dizer isso em alto e bom som?
É muito bom para a democracia brasileira que a oposição ao governo vá para as ruas e se manifeste.
Não importa que o foco seja agora a CPMF. Também o PT e seus aliados iam às ruas com bandeiras de protesto específicas. E nunca deixaram de dizer que eram manifestações contrárias ao governo. Nem deixaram de mostrar seus símbolos partidários.
De um ponto de vista de oposição, a bandeira da manifestação não poderia ter sido mais bem escolhida, aliás. Se não conseguir aprovar a CPMF, o governo Lula ficará apenas marcando passo até 2010. Não sendo possível nem aceitável fazer cortes na área social, o prejuízo recairá sobre a principal vitrine do segundo mandato, os projetos de investimento em infra-estrutura reunidos sob o slogan do PAC.
Outra coisa difícil de entender é a justificativa da reivindicação. A crítica dirigida à CPMF não é mais agora simplesmente a de que é um imposto ineficaz, "em cascata", um "imposto burro". A crítica é a de que atingiria mais duramente os mais pobres. E é difícil de entender, porque parece óbvio que paga mais CPMF quem tem mais renda e, conseqüentemente, maior movimentação bancária.
O raciocínio do organizador do protesto, Ronaldo Koloszuk, é o seguinte: "Um advogado gasta cinco dias por ano para pagar a CPMF, mas o motorista de táxi, por exemplo, gasta nove. Por quê? Porque quando você está fazendo o pão, preparando a terra, já pagou CPMF, colocou adubo, vai plantar a muda, já pagou CPMF, vai colher, já pagou CPMF, lanche da padaria, já pagou CPMF. No final, está tudo embutido no pão".
A única conclusão lógica a tirar é a de que advogados não comem pão. Será que comem brioches?


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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