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MARCOS NOBRE
Cansei 2
HOJE É DIA de manifestação
contra o governo Lula. Oficialmente batizado de "Tributo contra o Tributo", tem como
reivindicação a extinção da CPMF.
Com atrações musicais de grande
apelo popular, pretende levar nada
menos que 2 milhões de pessoas ao
vale do Anhangabaú, na cidade de
São Paulo.
A organização está a cargo do
movimento Frente Nacional da
Nova Geração, liderada pelo empresário Ronaldo Koloszuk, 30,
também diretor titular do Comitê
de Jovens Empreendedores da
Fiesp, entidade que custeará o ato
juntamente com a Associação Comercial de São Paulo. Como as manifestações do Cansei, também esse showmício não pretende ser um
ato contra o governo e não permitirá faixas e cartazes de partidos.
Essa é uma das coisas difíceis de
entender. É óbvio que o ato é contra o governo Lula. É óbvio que será apoiado por partidos e forças de
oposição. Qual é o problema de dizer isso em alto e bom som?
É muito bom para a democracia
brasileira que a oposição ao governo vá para as ruas e se manifeste.
Não importa que o foco seja agora a
CPMF. Também o PT e seus aliados iam às ruas com bandeiras de
protesto específicas. E nunca deixaram de dizer que eram manifestações contrárias ao governo. Nem
deixaram de mostrar seus símbolos partidários.
De um ponto de vista de oposição, a bandeira da manifestação
não poderia ter sido mais bem escolhida, aliás. Se não conseguir
aprovar a CPMF, o governo Lula ficará apenas marcando passo até
2010. Não sendo possível nem
aceitável fazer cortes na área social, o prejuízo recairá sobre a principal vitrine do segundo mandato,
os projetos de investimento em infra-estrutura reunidos sob o slogan
do PAC.
Outra coisa difícil de entender é
a justificativa da reivindicação. A
crítica dirigida à CPMF não é mais
agora simplesmente a de que é um
imposto ineficaz, "em cascata", um
"imposto burro". A crítica é a de
que atingiria mais duramente os
mais pobres. E é difícil de entender, porque parece óbvio que paga
mais CPMF quem tem mais renda
e, conseqüentemente, maior movimentação bancária.
O raciocínio do organizador do
protesto, Ronaldo Koloszuk, é o seguinte: "Um advogado gasta cinco
dias por ano para pagar a CPMF,
mas o motorista de táxi, por exemplo, gasta nove. Por quê? Porque
quando você está fazendo o pão,
preparando a terra, já pagou
CPMF, colocou adubo, vai plantar
a muda, já pagou CPMF, vai colher,
já pagou CPMF, lanche da padaria,
já pagou CPMF. No final, está tudo
embutido no pão".
A única conclusão lógica a tirar é
a de que advogados não comem
pão. Será que comem brioches?
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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