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Audácia na educação
Análise de dados da Pnad pelo Ipea indica evolução lenta na escolaridade; ensino médio deveria passar a ser obrigatório
O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apresentou uma
súmula da marcha da
educação no Brasil até 2007 que
põe a nu tanto os avanços inegáveis quanto as mazelas tradicionais do setor.
Na base da análise do Ipea estão os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad 2007). Esse tipo de série
histórica lança pouca luz sobre
as variações anuais, que tendem
a situar-se no intervalo das flutuações estatísticas e por isso
oferecem pouca informação,
mas são úteis para acompanhar a
dinâmica das transformações de
fundo.
A taxa de analfabetismo caiu
0,4 ponto percentual, chegando
a 10%. Bem melhor que os 17,2%
de 1992, por certo, mas ainda
muito desigual: 20% no Nordeste e 5,4% no Sul, única região a
registrar índice comparável com
o de países civilizados. Porém,
90% dos analfabetos têm mais de
25 anos, a indicar que esse estoque de marginalizados só poderá
ser zerado no decurso de uma ou
duas gerações, pois a universalização do ensino fundamental segue adiante, com mais de 97%
das crianças de 7 a 14 anos na escola, cifra mantida desde 2003.
O país se aproxima do cumprimento da obrigação constitucional de oferecer oito anos de ensino fundamental a todos os cidadãos (artigo 208, inciso I), mas
de modo lento. A média nacional
de anos de estudo está em 7,3,
também com disparidades regionais (6 no Nordeste, 8 no Sudeste). Ganho de pouco mais de um
mês de escolaridade entre 2006
e 2007, mas um ano e meio se
considerada a década completa.
Nesse ritmo, os oito anos só serão alcançados em 2012, na melhor hipótese.
Na era da economia do conhecimento, contudo, oito anos são
insuficientes. A educação de nível secundário (11 anos de estudo, pelo menos) é encarada como
o patamar mínimo para que a
força de trabalho de uma economia a ponha em situação de competir no mercado internacional.
Tal patamar, se mantido o ritmo presente de melhora, só deverá ser alcançado em 2033. É
tempo demais. Por muito que se
tenha avançado em matéria de
prioridade para a educação, na
opinião pública e nas esferas de
governo, culminando com o
bem-encaminhado Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), as medidas em fase de
implementação necessariamente demoram a produzir efeitos.
Está na hora de dar um novo e
ousado passo à frente: incluir os
três anos de ensino médio na
educação obrigatória, como já fizeram Chile e Argentina.
Não basta, é óbvio, alterar a
norma legal e criar uma obrigação impossível de cumprir pelos
pais, se não houver vagas suficientes e ensino gratuito de qualidade para que todos possam
aprender e concluir o currículo
na idade certa. Hoje, dos 82% de
jovens de 15 a 17 anos na escola,
só 48% estavam no ensino médio, o nível adequado.
O país tem de fazer mais por
eles -e por seu próprio futuro.
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