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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Onde está a direita?
SÃO PAULO - Não faz muito, Lula
festejava, como uma conquista do
país, a ausência de "trogloditas de
direita" entre os prováveis candidatos à sua sucessão. De fato: Dilma
Rousseff, José Serra, Ciro Gomes,
Marina Silva... inclua-se Aécio Neves na lista. Nenhum deles caberia
no perfil do "troglodita". Quer dizer
que não existe direita no Brasil? Ou,
talvez, que a direita não esteja representada na política nacional?
Talvez seja útil separar "direita"
de "trogloditas". Estes continuam
por toda parte, fazendo valer seus
interesses. A turma do velho patrimonialismo, por exemplo, encontra-se arrebanhada à sombra do lulismo, protegida e bem alimentada.
Sob os tucanos também era assim,
de modo menos despudorado.
O Brasil, FHC costuma dizer, é
mais atrasado do que conservador.
Pode-se pensar em termos de direita e esquerda, mas a política real se
explica melhor pelo parasitismo do
Estado do que pelo crivo ideológico.
A não ser da boca para fora, o país
desconhece a figura do empresário
liberal. O capitalismo aqui sempre
foi anfíbio, patrocinado pelo Estado
-sirva de exemplo o caso caricato
das privatizações financiadas pelo
BNDES. Bancos e empreiteiras
nunca faturaram tanto como agora,
na gestão "progressista" do PT.
Com Lula, voltou ser de bom-tom
mamar no Estado, basta invocar algum "interesse estratégico".
Mas e a direita, onde está? Se por
isso entendermos o ideário liberal
clássico, para o qual o Estado constitui um entrave à realização do indivíduo e a vida social deve ser regulada pelo mercado, então Lula tem
razão: essa direita está politicamente órfã. O antigo PFL tenta ocupar o
espaço, mas até mesmo a bandeira
pela redução da carga tributária é
uma impostura nas suas mãos.
O amálgama da direita é o antipetismo, sobretudo nas classes médias do Sul e do Sudeste. Além da
aversão à figura de Lula, essa direita
se imagina espremida entre a farra
dos ricos e a esmola dos pobres. E
culpa o lulismo pela frustração de
seus sonhos de exclusividade social.
Se hoje vota em Serra, é menos por
gosto do que por falta de opção.
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