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Girando em falso
Números da pesquisa eleitoral sugerem, mais uma vez, que o fator religioso é menos decisivo do que se imagina na decisão do eleitor
Não se registram oscilações na
pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial. A candidata
Dilma Rousseff, do PT, conta com
54% dos votos válidos, contra
46% de José Serra, do PSDB. São
os mesmos índices da pesquisa
anterior, feita há uma semana.
A estabilidade nas preferências
do eleitorado não deixa de trazer
um contraste irônico com o clima
de agitação que se tem verificado
na campanha. O temor de perder
popularidade em setores religiosos motivou, como se sabe, bruscas alterações de opinião, por parte de Dilma Rousseff, enquanto José Serra se empenhou em renovadas exibições de fé.
Vistos ao microscópio, e com a
ressalva de que a margem de erro
estatística se amplifica conforme
se dividem os grupos da amostra
pesquisada, os números do Datafolha sugerem, mais uma vez, que
a questão religiosa não produz
efeitos tão imediatos como se imagina. É curioso notar, por exemplo, que Dilma não perdeu votos
entre os católicos, mas caiu seis
pontos percentuais na pequena
parcela de eleitores que se diz sem
religião. Nesse grupo, que responde por 6% apenas do total dos eleitores, a candidatura Serra cresceu
cinco pontos.
Entre os evangélicos pentecostais, a proporção dos eleitores de
Dilma Rousseff não se alterou significativamente, se comparados
os números desta pesquisa com os
votos da petista no primeiro turno.
A própria questão do aborto, sobre a qual tanto tergiversou a candidata Dilma, é entendida pela
maioria da população sob uma
ótica relativamente diversa daquela manifestada pelos setores
religiosos mais estritos.
Afinal, a lei em vigor admite a
interrupção da gravidez nos casos
de estupro e de risco para a gestante; a seguir-se a orientação da
Igreja Católica e de outras confissões, nem mesmo essa eventualidade deveria ser admitida. Nem
Dilma nem Serra, de todo modo,
propõem-se a revogar a lei.
Não é só neste aspecto que a
campanha, por assim dizer, gira
em falso. Discute-se no campo governista, por exemplo, a conveniência de trazer de volta, com
mais ênfase, a figura do presidente Lula nesta fase da disputa. Inventou e propeliu a candidata durante meses -até que se considerou necessário que Dilma, ela própria, mostrasse um mínimo de autonomia pessoal. Declina em alguns pontos a candidata; recorra-se, então, a seu demiurgo.
Lula alcança novos recordes de
popularidade: 81% dos entrevistados na pesquisa classificam de
"ótimo" ou "bom" seu desempenho. Apenas 40% dos eleitores,
entretanto, dizem-se influenciáveis pelo engajamento presidencial numa candidatura.
Pesquisas de opinião, por certo,
são um instrumento importante
na avaliação de uma estratégia
política. A predominância do marketing na condução da campanha
tende a atribuir-lhes, talvez, o caráter terrorífico e religioso de um
anátema -quando o mínimo que
se poderia esperar de candidatos à
Presidência, na verdade, é que exponham o que de fato pensam.
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