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Propaganda poluída
Petrobras produz óleo diesel com altíssimo teor de enxofre, o que prejudica a saúde de todos os brasileiros
AO CONTRÁRIO do que sugere a propaganda de empresa ambientalmente
responsável da Petrobras, o óleo
diesel por ela produzido é um
dos piores do mundo e contribui
para piorar a qualidade de vida
dos brasileiros. E, ao que tudo indica, a estatal vai deixar de cumprir a legislação ambiental e não
reduzirá até 2009 o teor de enxofre no combustível.
A história é longa e pouco enaltecedora para a Petrobras. No já
longínquo ano de 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), seguindo tendência
consolidada internacionalmente, baixou a resolução 315, determinando que, a partir de janeiro
de 2009, o diesel comercializado
no país deveria apresentar concentração máxima de enxofre de
50 partes por milhão (ppm).
O combustível atualmente
vendido em 237 cidades de grande porte tem 500 ppm de enxofre. Nos cerca de 5.300 municípios restantes, chega a inacreditáveis 2.000 ppm. O limite máximo na União Européia (UE) é de
50 ppm e será de 10 ppm a partir
de 2009. Nos EUA e no Canadá,
ele já é de 15 ppm.
Agora, a menos de dois anos do
prazo, a Petrobras afirma que
não poderá cumprir o cronograma. Escusa-se afirmando que a
resolução da Agência Nacional
de Petróleo (ANP) que detalha a
especificação do combustível
menos poluente foi publicada há
menos de um mês.
É verdade. Mas, ao que consta,
a ANP atrasou em cinco anos a
publicação da norma técnica justamente por pressão da Petrobras, da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos (Anfavea) e de distribuidores de combustíveis, que querem postergar
ao máximo os custos que a utilização do diesel mais limpo deverá impor a toda a cadeia.
A Petrobras diz que está investindo US$ 1,7 bilhão em unidades de hidrotratamento necessárias para que as refinarias possam produzir o diesel com menor teor de enxofre. É insuficiente, dado que a empresa não tem
planos de eliminar o venenoso
diesel com 2.000 ppm de enxofre
antes de 2013.
Esse é um verdadeiro crime
contra a saúde pública. Recente
estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental
da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo
(USP) estima que a má qualidade
do ar na região metropolitana de
São Paulo provoque a morte prematura de 3.000 pessoas por
ano. O enxofre do óleo diesel, por
seu poder carcinogênico e por
desencadear uma série moléstias
cardiorrespiratórias, contribui
para parcela significativa desses
óbitos, que poderiam ser evitados ou pelo menos retardados.
Antes de vender-se ao mundo
como mensageira dos biocombustíveis e portadora de uma solução para o problema da mudança climática provocada pela
queima de combustíveis fósseis,
a Petrobras deveria tornar menos letal o diesel que está forçando os brasileiros a respirar.
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