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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Escombros tucanos
SÃO PAULO - Que não tenha morrido ninguém foi "um milagre", disse o próprio governador de São
Paulo, ao observar, in loco, o resultado do desabamento de três vigas
do Rodoanel sobre a rodovia Régis
Bittencourt, na noite de sexta. "Milagre" não é uma palavra que costuma frequentar o vocabulário do engenheiro José Serra, adepto obcecado da razão. Ele falou ainda em
"barbeiragem" a ser esclarecida, o
que soa quase como um eufemismo. "Negligência criminosa" não
seria mais adequado?
Registre-se que, sim, lamentavelmente uma pessoa morreu na madrugada de sábado depois de um
acidente provocado pelo congestionamento na rodovia.
Aguardemos as investigações,
mas o que por ora já se sabe não é
nada republicano. Relatório do Tribunal de Contas da União havia
apontado várias "irregularidades
graves" nas obras do trecho sul do
Rodoanel. Entre elas, a substituição
do material das vigas definido em
contrato por outro, mais barato.
Apesar dessa e de outras tantas
maracutaias técnicas, o TCU viu indícios de superfaturamento pesado
na obra. OAS, Mendes Jr. e Carioca
Engenharia, do consórcio responsável pelo trecho, nada disseram até
o momento. O silêncio traduz o descaso arrogante com que empreiteiras desacostumadas à luz do dia tratam a opinião e a coisa pública.
Como não lembrar da tragédia
ainda recente na linha 4 do metrô,
em janeiro de 2007? Não foi a mesma negligência criminosa que deu
origem à enorme cratera para onde
foram tragados seis carros e morreram soterradas sete pessoas?
Conseguirão os tucanos concluir
uma obra de porte em São Paulo
sem cometer desastres pelo caminho? Não há retórica da competência ou do bom gerenciamento que
resista aos escombros monumentais que esses seletos homens públicos são capazes de produzir. Os
tucanos precisam compatibilizar a
boa imagem que fazem de si mesmos com as imagens que a realidade insiste em nos exibir.
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