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ELIANE CANTANHÊDE
O dia em que o PSDB foi PT
BRASÍLIA - Lula e o PT foram
contra todos os pactos engendrados
para o bem do país: eleição de Tancredo, para sair da ditadura; apoio a
Sarney, para consolidar a redemocratização; aval à nova Constituição, em 1988; sustentação de Itamar, na transição pós-Collor; estabilização da economia na era FHC,
velho parceiro antiditadura.
Por quê? Porque o objetivo de
Lula e do PT era marcar posição e
chegar ao poder. Demorou, mas deu
certo. Venceram e se reelegeram.
Foi exatamente essa a lógica dos
deputados e senadores tucanos ao
derrotar a CPMF. Lula está forte. O
Congresso, os partidos e a oposição,
em particular, estão frágeis. Dar R$
40 bi para o Planalto, que já conta
com ventos internacionais favoráveis, carga tributária escorchante e
arrecadação recorde, seria dar a vitória ao adversário em 2008 e fortalecê-lo para 2010. Não era, pois, da
lógica de oposição.
Serra e Aécio têm um governo estadual e a perspectiva de subir a
rampa. Ambos tinham interesse em
negociar com o Planalto e em salvar
a parte que lhes cabe e lhes caberia
do latifúndio da CPMF. Mas, para
poderem usar a CPMF na Presidência, eles precisam, antes, chegar lá.
Não é fortalecendo um Lula já forte
que vão conseguir.
E o que o PSDB lucraria recuando
de última hora para votar com o
Planalto? Seria uma desmoralização. Não ganharia um só voto do
eleitorado de Lula e irritaria o seu
próprio eleitorado, cansado de uma
oposição débil e errática.
Foi a maior derrota política do
governo Lula em seis anos -e dói
no bolso. Contra a parede, o governo dá tratos à bola para anunciar
nesta semana um presente de Natal
às avessas. Novos impostos e corte
de gastos? Porque o fundamental
agora, para todos, é recompor os recursos da saúde, literalmente vital.
Interessa a governos criar e manter impostos. Cabe à oposição acabar com eles. A quarta-feira, 12/12,
foi o dia em que o PSDB foi PT.
elianec@uol.com.br
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