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TENDÊNCIAS/DEBATES
Os recursos das agências de pesquisa devem passar para as universidades?
NÃO
O controle dos recursos para pesquisa
ISAIAS RAW
A sociedade aloca, por meio de
instituições como o CNPq, a Finep
e a Fapesp e de programas episódicos,
recursos que visam o desenvolvimento
científico, base para o desenvolvimento
tecnológico e econômico do país, gerando competência, tecnologia, produtos e
empregos.
Existe um sistema que permitiu aos
países desenvolvidos distribuir com eficiência e objetividade esses recursos para obter os retornos esperados. Recursos para pesquisa nunca devem ser repartidos para distribuição pelas instituições de pesquisas ou universidades. São
investimentos de recursos públicos, que
têm de apostar no seu retorno social e
econômico, escolhendo os melhores
projetos, sob direção de pesquisadores
competentes, com equipes formadas e
instalações básica adequadas.
O sistema implantado pela Fapesp e
seguido pelo CNPq deu, ao contrário do
que se insinuou, ampla liberdade aos
pesquisadores para propor seus projetos. Os projetos são sempre analisados
por pares de reconhecida competência,
que não têm conflitos de interesse e que
permanecem anônimos. Se o projeto
detalhado e o currículo dos proponentes são aprovados, o projeto é financiado. Assumem os pesquisadores o compromisso de submeter não relatórios,
mas uma publicação com resultados e
conclusões à comunidade científica internacional. Por meio da publicação, a
comunidade científica pode usar os resultados divulgados para estender as
pesquisas, que irão confirmar ou negar
o que foi publicado. Esse processo garante que recursos sejam dados para
pesquisadores com capacidade de inovação e que seus resultados só sejam
aceitos quando adequadamente confirmados por novas pesquisas.
Nunca as agências de financiamento
ultrapassam a rigorosa análise de pares
nem impõem linhas de pesquisa. Quando isso ocorreu, no passado, o resultado
foi trágico. Os poderes, quaisquer que
sejam, não devem intervir.
Todavia é fundamental o direito do
Estado de priorizar determinadas pesquisas, sem contudo eliminar a pesquisa independente, da qual frequentemente surgem as inovações importantes. O Brasil levantou empréstimos de
milhões de dólares no Banco Mundial
para estimular pesquisas nas áreas de
química fina, biotecnologia, instrumentação científica e educação científica.
Estamos agora pagando esses empréstimos, mas não progredimos suficientemente nessas áreas para formar os novos cientistas e tecnólogos. Continuaremos nessa rota, com os fundos setoriais,
se não distribuirmos os investimentos
para bons projetos, ainda que privilegiando determinas áreas, mas apostando na criatividade de grupos competentes. Não existe mais pesquisa individual,
mas "escolas" que surgem onde aparecer um líder e atraem jovens inteligentes
e motivados.
Em alguns casos, quando os investimentos necessários são muito altos, foram criados laboratórios especiais, institutos desligados das universidade, que
correm o perigo de repetir a história de
grande parte deles. Com um quadro estável por décadas e sem estudantes, esterilizam-se, mas mantêm a prerrogativa institucional e orçamentária de continuar a viver do seu passado. As pesquisas, quer realizadas nas universidades, quer em institutos de pesquisa, têm
de ter projetos submetidos e financiados por agências externas. A distribuição de recursos a todos os Estados da
União ou através do sistema sujeito às
interveniências locais não leva ao desenvolvimento científico e tecnológico.
A proposta encabeçada pela profa.
Marilena Chaui, importante pesquisadora na área de ciências sociais, seria
um desastre para a pesquisa científica
experimental. Recursos cartorialmente
distribuídos não criam competência
nem originalidade.
Isaias Raw, 76, professor emérito da Faculdade
de Medicina da USP, é presidente da Fundação
Butantan.
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