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Bom apetite
Atendendo a interesses
fisiológicos, Lula aponta
para Ministério de Minas e
Energia um nome sem
qualificações técnicas
DIFICILMENTE alguém
terá ascendido ao cargo de ministro de Estado numa situação de
tão precário prestígio quanto o
senador Edison Lobão, do PMDB
maranhense. Ainda que não seja
do feitio desta Folha incorrer em
prejulgamentos de natureza pessoal, é patente que faltam ao indicado para o Ministério de Minas e Energia qualificações técnicas para o cargo.
Falar em "qualificações técnicas" soa até como eufemismo,
diante do que o próprio Lobão já
admitiu. "Estou me informando", disse placidamente o político peemedebista, "sobre energia
elétrica, sobre hidrelétrica, sobre
gás, sobre petróleo."
Muitas noites em claro seriam
necessárias, entretanto, para
completar as leituras que pudessem habilitá-lo a tomar decisões
em área tão vital; e não há garantias de que um apagão não as interrompa antes do tempo.
Enquanto setores técnicos do
governo divergem sobre os riscos
de falta de energia, Lobão cuida
de abrigar-se de uma excessiva
exposição aos calores do debate.
"Nem sequer pus o pé na soleira
do ministério e já estão me debitando coisas que possam acontecer no futuro."
Faça chuva ou faça sol, o fato é
que "a soleira" das Minas e Energia foi franqueada sem cerimônias nem rodeios. Um observador afeito a jogos de palavras não
deixaria de ver, na entrada de Lobão, mais um sinal de que as edificações da Esplanada dos Ministérios se assemelham mais e
mais àquelas cabanas de palha e
de madeira construídas pelos
porquinhos da historieta, incapazes de resistir à voracidade dos
interesses fisiológicos de toda espécie.
Se for imprópria a menção a
um clássico infantil, cabe recordar a fábula supostamente moralizante que o presidente Lula
empenhou-se em contar certa
vez. Discutia-se a composição de
sua equipe ministerial. "Com
saúde e educação não se brinca":
eram tranqüilizadoras as pretensões da assertiva presidencial.
Revelaram-se contudo proféticas, no que diz respeito à nomeação nas Minas e Energia.
O ministério foi oferecido a
Edison Lobão num ato de vassalagem ao PMDB sarneyzista. Da
feudalização do Executivo, passa-se, no Senado, a contingências
igualmente alheias à lógica política republicana. Reserva-se a
Edison Lobão Filho a vaga de Lobão Sênior na Câmara Alta.
Sucessão legítima: ainda que
sem trajetória política própria,
Edinho, como é chamado, foi
eleito -conforme as regras, notoriamente criticáveis, do sistema em vigor.
Todavia já surgem, e novamente não é o caso de julgá-las antes
de uma investigação definitiva,
denúncias contra ele. Nem sequer teria apetite pelo cargo, assevera o pai. Cogite-se então do
suplente do suplente, Remi Ribeiro -e suas dificuldades com o
Tribunal de Contas da União começam a bater às portas do noticiário.
Coisas do mundo encantado de
Brasília. A história prossegue.
Cabe acompanhá-la de olhos
abertos -mesmo em caso de falta de luz.
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