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CLÓVIS ROSSI
Rottweiler sem dentes
SÃO PAULO - O Brasil mudou de
complexo. Antes, abrigava n'alma o
de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.
Pena que não tenha dentes.
Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura
masturbação diplomática, ao dizer
que se trata de "assistencialismo
unilateral".
Qualquer pessoa que não tenha
perdido o senso comum sabe que os
haitianos não estão preocupados
com a cor do assistencialismo, se
unilateral, bilateral, multilateral.
Querem que funcione.
No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta
Folha: "Depois que os americanos
assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de
medicamentos e alimentos".
É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos
assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar
com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país,
o que é escandalosamente óbvio.
Ajuda-memória aos resmungões,
extraída do texto de Sérgio Dávila:
os EUA enviaram vários navios da
Guarda Costeira com helicópteros,
o porta-aviões Carl Vinson, com 19
helicópteros, 51 leitos hospitalares,
três centros cirúrgicos e capacidade
de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.
Nos
próximos dias, chegam mais dois
navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e
um navio-hospital.
O Brasil tem condições de chegar
a um décimo disso? Não. Então que
pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo
notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.
crossi@uol.com.br
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