São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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Política viciada

Movido por razões eleitorais, o ex-presidente Lula anunciou, em maio do ano passado, medidas de "emergência" para combater a disseminação do crack no país. O pacote de providências reunia graves falhas de concepção, acompanhadas, nos meses seguintes, de execução incompleta. Prova disso é a ausência de qualquer efeito da iniciativa governamental nas vidas dos mais de 600 mil usuários existentes no país.
Em São Paulo, onde os primeiros casos de dependência de crack no Brasil foram diagnosticados, há 15 anos, os "territórios" de consumo se espalham. Antes concentrados em grande quantidade na chamada cracolândia, no centro, viciados agora se reúnem para fumar o subproduto da cocaína em diversos bairros da cidade, como constatou reportagem da Folha.
No lançamento do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, Lula prometeu, entre outras medidas, dobrar o número de leitos para dependentes da droga em hospitais do SUS (alcançando um total de 5.000 vagas) e construir novos centros de atendimento, especializados em dependentes.
Os gastos com o programa foram estimados em R$ 410 milhões -parte deles a ser repassada a municípios. No mês passado, prefeitos de todo o país se queixavam da falta de verbas. Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios em 3.950 cidades encontrou problemas relacionados ao crack em 3.871.
Mesmo que todos os leitos prometidos tivessem sido criados, o efeito seria mínimo. Falta à maioria dos hospitais estrutura para manter o tratamento de viciados. Especialistas recomendam a criação de enfermarias especializadas, com profissionais treinados para tratar do problema.
Esses profissionais se queixam da falta de diálogo com o poder público. Cumpre envolvê-los na busca de diagnósticos mais precisos e na concepção de novas iniciativas .
Estados e municípios tampouco têm cumprido suas responsabilidades. O poder público brasileiro já foi capaz de oferecer boas respostas a outros graves problemas de saúde -como no programa de combate à Aids. É preciso que se encontre a mesma eficácia para enfrentar a dependência química, sem prejuízo de necessários avanços no campo da ação policial.


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