São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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RICARDO YOUNG

O custo da ignorância

Em meio às tragédias da semana não faltam acusações.
Ora são as autoridades incompetentes, ora é a população temerária, ora é o contingenciamento de recursos, ora são as mudanças climáticas.
Todo mundo tem explicações para tudo; no entanto, não há um conjunto de ações coordenadas que possam afastar o fantasma das tragédias ambientais.
Há fatores macro, sistêmicos e complexos que fóruns mundiais, como as convenções recentemente realizadas em Nagoia e Cancún, estão tentando compreender, entrar em consenso e decidir sobre protocolos globais.
Mas há outros locais e comportamentos sobre os quais podemos agir já e, com isso, evitar o pior e fazer toda a diferença. Dentre esses fatores, destaco duas ignorâncias: a ambiental e a política.
Somos muito pouco alfabetizados nas questões ambientais. Não me refiro nem à ignorância inofensiva como a de não saber diferenciar uma sibipiruna de um pau-brasil.
Refiro-me à ignorância maior e imperdoável da intrínseca interdependência entre todos os sistemas e espécies da natureza. Convencionou-se que o ser humano é a espécie mais importante e a natureza deve servir às suas necessidades às expensas da comunidade da vida.
Portanto, há uma cultura de apropriação, abuso e desprezo em relação ao meio ambiente, que, somada à ignorância, faz com que o principal resultado da cultura antropocêntrica seja ameaça constante ao meio ambiente em geral e à condição humana, em particular.
Não conhecer o meio ambiente e suas dinâmicas e não se comprometer com a vida faz com que nossos aglomerados urbanos assemelhem-se a histórias de horror, palcos de tragédias sem fim e de um desânimo inconsolável quanto ao "Nosso Futuro Comum" (ver Relatório Brundtland).
Outra ignorância que mata é a política. A educação política deveria fazer parte dos currículos escolares desde a mais tenra infância.
Cidadania é a condição que define a vida em sociedade, a condição do ser político, agente da dinâmica social. No Brasil, não temos qualquer formação que dê ao aluno os saberes mais rudimentares sobre o funcionamento em sociedade, sobre direitos ou deveres.
Somos literalmente objetos de políticas publicas, hipotecamos direitos aos políticos profissionais e ignoramos nossos deveres primários.
Cremos na força do voto e paramos aí, quando o voto é só o passaporte para a cidadania e para a participação política, sua verdadeira jornada. Nossas duas ignorâncias potencializam as tragédias que nos afligem de forma crescente. Permanecemos cegos em busca de um ensaio.

RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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