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MASSACRE NA JUSTIÇA
A fronta a idéia de justiça a decisão do Tribunal de Justiça (TJ)
de São Paulo de reverter condenação
em primeira instância e absolver o
coronel Ubiratan Guimarães, o comandante da operação policial que
resultou no massacre do Carandiru,
em 1992, no qual 111 presos foram
mortos durante uma rebelião.
Com a anulação parcial do primeiro julgamento, de 2001, no qual o oficial fora sentenciado a 632 anos de
prisão, os membros mais antigos do
TJ afirmam que, do ponto de vista do
Direito, a matança jamais ocorreu.
Não foram responsabilizados nem o
governador do Estado à época, Luiz
Antonio Fleury Filho, nem o secretário da Segurança, nem o comandante da operação, nem, até o momento,
nenhum dos policiais envolvidos.
A situação em que se deu o acontecimento de 1992 era extremamente
difícil e perigosa para a polícia. Uma
rebelião precisava ser debelada, e o
governo optou pela invasão. O que
ocorreu a partir daí permanece controverso. Mas é evidente, por seu desfecho, que a operação foi desastrosamente conduzida, o que, portanto,
sugere que seu comandante é pelo
menos co-responsável pelas mortes.
Houve incoerência do júri. Ao responderem ao questionário, os jurados afirmaram que o coronel agira
"no estrito cumprimento do dever",
mas a seguir disseram que ele atuara
com "excesso", ponto que fundamentou a acusação de co-autoria
com dolo eventual. A contradição teria justificado a anulação total do julgamento e a realização de um novo
juízo; jamais a absolvição do réu.
Não há notícia de outra tecnicalidade
semântica que tenha livrado um acusado de 632 anos de pena. Espera-se
que o Superior Tribunal de Justiça reforme a decisão do TJ paulista.
Se o massacre do Carandiru já
constitui mancha indelével na história brasileira, a ação da Justiça nesse
caso a agrava. Entre os homicídios e
o primeiro julgamento, transcorreram nove anos. A única condenação
obtida foi revertida cinco anos depois. Os outros processos ainda em
curso não foram julgados. Tudo isso
contribui para reforçar a impressão
-não de todo equivocada- de que
este é o país da impunidade.
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