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FERNANDO GABEIRA
O adversário interior
CUBA FUZILOU quatro pessoas que tentavam fugir do
país. A China executa, regularmente, seus prisioneiros. Diante
disso, erguem-se poucas vozes no
Brasil. Silencia o humanismo
transbordante de bons sentimentos. Por quê?
Penas rigorosas em si mesmas
dependem, para a esquerda, do
contexto em que são cumpridas.
No capitalismo, o criminoso é
visto como algoz e vítima. O sistema penitenciário, segundo Foucault, é apenas um longo processo
de repressão e controle. Idéias que,
no fundo, inibem o potencial de reformas. Fora do Brasil, os fatos são
mais claros.
Ségolène Royal, no sábado,
anunciou medidas duras contra a
delinqüência juvenil. Diante das
circunstância francesas, não tinha
outra saída.
A Dinamarca prevê a maioridade
penal aos 15 anos. O país tem um
bom sistema educacional, e suas
prisões são decentes.
A violência se resolve apenas
com leis? Jamais dissemos isso.
Mas é a acusação cotidiana. As leis
apenas ajudam. Precisam ser trabalhadas em três dimensões. A primeira delas é a preventiva. Mudar a
qualidade da polícia ajuda. A segunda delas é de ordem penal:
apressar e aumentar o rigor. A terceira é intervir no sistema penitenciário, melhorando sua qualidade.
Quando você quer trabalhar, ressurge o humanismo, o mesmo que
nos abandona quando a repressão
é de esquerda. E há também as teses de que não se deve agir sob
emoção. Com décadas de atraso,
poderíamos começar a entender
que não existe uma rígida dicotomia entre emoção e razão.
A realidade se moveu com rapidez. Nossas idéias estão envoltas
em teias de aranha. Ainda assim há
esperança. Acredito que vamos
deixar de tratar do tema só em certos momentos. Há consenso sobre
um trabalho permanente. De uma
forma simplificada, a linha busca
evitar os dois extremos do espectro: os que acreditam apenas na
força da repressão e os que fazem a
política do avestruz.
Quando falo em melhorar a qualidade dos presídios, por exemplo,
sinto um vazio. Thoreau dizia que
todos os cidadãos de bem deveriam
conhecer um presídio. Assim conheceriam melhor a sociedade.
Chegou a hora de uma ação multidimensional. Quem vai coordená-la? No Congresso, posso ajudar.
O governo tem um diagnóstico. Alguém precisa encarná-lo. O entrechoque de apetites políticos é um
espetáculo desolador diante da
imensidão das tarefas. Cadê o novo
ministro?
Os que vêem no clamor popular
um processo de falsa consciência,
deveriam olhar para dentro de si.
Saíram da órbita. Discutem cargos
e verbas enquanto pedimos paz.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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