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ANTONIO DELFIM NETTO
2010?
TEMOS INSISTIDO nestes
"sueltos" semanais que, em
matéria de crescimento econômico, 2010 está dado. Por uma
fatalidade estatística, registraremos um crescimento da ordem de
5% ou 6%. O que se discute é a
"qualidade" desse crescimento e a
herança que o governo Lula deixará. Será um ano em que as incertezas continuarão:
1) estimativas quase consensuais
são de que a economia mundial
crescerá em torno de 3% a 3,5% (os
EUA próximos de 3,5%, a Eurolândia menos de 2% e os emergentes
de 5% a 5,5%). A Comissão Europeia decidiu suportar a Grécia, mas
há ainda a possibilidade de um desarranjo no sistema financeiro
americano;
2) crescem as preocupações com
a bolha imobiliária chinesa e a aceleração da sua taxa de inflação. A irritação causada pela política cambial na China vai acabar impondo a
cada país uma política defensiva.
Isso poderá ampliar o protecionismo, com graves consequências para o desenvolvimento mundial. A
paciência e a leniência do mundo
em relação às "artes" chinesas estão se esgotando;
3) os sinais de uma deterioração
das contas externas brasileiras são
cada vez mais visíveis, mas ela não
coloca em risco a nossa solvência.
O problema é que, cada vez que se
tentou sustentar o crescimento (do
consumo, principalmente) à custa
da acumulação de deficits em conta corrente, o final não foi feliz;
4) a "filosofia" do presidente Lula -mesmo dando ênfase ao combate à fome e à melhoria dos menos
favorecidos pela sorte- sempre foi
a do respeito aos pilares da política
econômica canônica: metas de inflação executada por um Banco
Central operacionalmente autônomo; construção de superavits
primários capazes de reduzir monotonicamente a relação dívida
pública/PIB; câmbio flutuante
com liberdade de movimento de
capitais.
Foi isso o que permitiu ao país
aproveitar-se da expansão do crescimento mundial de 2003 a 2008.
Diante da crise mundial, alguns
desses cânones foram, justificadamente, quebrados. Parece claro
que teria sido preferível dizer isso
claramente em relação ao superavit primário de 2009 do que construí-lo com uma contabilidade
imaginativa. O resultado final, entretanto, foi bastante razoável: saímos da crise à frente da maioria
dos países, mas restou uma dúvida
sobre a política fiscal de 2010.
O dilema de Lula em 2010 é que o
desejo de eleger o seu sucessor não
pode ignorar a saída correta que é a
redução dos gastos correntes. Precisa fazer o prometido superavit
primário de 3,3%. Sem isso, poderemos ter séria volatilidade no
câmbio e aumento da inflação no
segundo semestre.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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