São Paulo, terça, 17 de fevereiro de 1998

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Ouse, Zagallo, ouse

CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O leitor me perdoe a abrupta mudança de tema, mas, afinal, é quase Carnaval e é ano de Copa do Mundo. Atrevo-me, por isso, a dar palpites no que parece ser uma campanha para crucificar o técnico Zagallo, da seleção brasileira.
Pode até ser que Zagallo mereça, mas o sacrifício será inútil se não for acompanhado de um entendimento da conjuntura do futebol tupiniquim: há uma bárbara escassez de unanimidades do gol até o meio-de-campo e uma incrível sobra de talentos indiscutíveis daí para a frente.
Para não alongar a lista, cito nove nomes que, se fossem de diferentes nacionalidades, seriam todos ídolos e titulares indiscutíveis em suas seleções: Romário, Ronaldo, Edmundo e Denílson, na frente, e Leonardo, Djalminha, Marcelinho Carioca, Giovanni e Rivaldo no meio-campo.
Escalá-los todos ao mesmo tempo seria uma aventura, posto que sobrariam só duas vagas, a do goleiro e a de um defensor (Roberto Carlos, única unanimidade na defesa). Mas o elementar bom senso indica que pelo menos seis deles deveriam jogar juntos (quatro atacantes e dois meio-campistas ou três e três ou qualquer outra combinação ao gosto do freguês).
O que não dá é usar, como vem ocorrendo, no máximo quatro desses nomes luminosos. Engrenagem alguma funciona à perfeição quando se marginaliza mais da metade do melhor material humano disponível.
Nem venham os conservadores dizer que é invenção de um "outsider". Foi mais ou menos assim em 1970. As unanimidades da época (Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Tostão, Jairzinho e, claro, Pelé) esparramaram-se pelo campo, pouco importando que Rivelino fosse um falso ponta-esquerda, Jairzinho, um falso ponta-direita etc.
O técnico era o mesmo Zagallo. E 1970 foi a última Copa em que o Brasil conseguiu, ao mesmo tempo, ganhar e dar espetáculo. Depois, foi ganhar mediocremente (94), brilhar, mas perder (82) ou nem brilhar nem ganhar.



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