São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2011

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Vácuo liberal

Crise no DEM deve contribuir para rearranjo no panorama partidário, dominado por polarização PT-PSDB e certo consenso social-democrata

"Somos o último partido liberal da política brasileira, a única legenda em condições de defender os princípios liberais como formulação partidária." A frase do novo presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), soa quase como confissão ou apelo de quem busca se agarrar a alguma identidade no momento em que o partido atravessa sua maior crise.
De um lado, os fundadores da agremiação, insatisfeitos; de outro, o filiado com maior número de votos, o prefeito Gilberto Kassab, de saída para um Partido Democrático Brasileiro, em gestação. Eis, na definição do ex-ministro Alceni Guerra, o contexto em que se realizou a convenção do DEM.
Para além desse enredo melancólico, parece estar em curso no país uma reacomodação partidária nada desprezível. Seus atores ainda não podem saber, exatamente, qual a sua configuração final. Mas há indícios no ar.
Além da cogitada fusão entre o PDB de Kassab e o PSB de Eduardo Campos, da qual nasceria uma legenda capaz de rivalizar com o PMDB, surgem especulações sobre outra fusão, entre PSDB, DEM e PPS. Não é algo certo nem tampouco seria para já.
As articulações mais sérias da oposição a Dilma Rousseff devem ocorrer só após as eleições municipais de 2012, tendo a sucessão de 2014 como pano de fundo. O senador mineiro Aécio Neves, cujas relações com a cúpula do DEM já são estreitas, assumiria o comando, em prol de sua candidatura.
Estaria nessa fusão a origem de um novo partido, mais afinado com as bandeiras liberais, mas ao mesmo tempo robusto o bastante para disputar a hegemonia política do país com o PT? É possível.
Há uma base social difusa, nas camadas médias dos grandes centros urbanos e nas fronteiras do empreendedorismo de Estados mais jovens, que parece sub-representada politicamente. Redução da carga tributária, Estado mais enxuto, gestão empresarial dos recursos públicos, estímulo ao desempenho e às liberdades individuais -são todas demandas que não encontram acolhida ou tratamento preferencial por parte do governo petista e andam desguarnecidas no front partidário.
O PT tomou do PSDB e, de certa forma, saturou o espaço simbólico do que se pode chamar, com boa vontade, de "social-democracia brasileira". Nela, um amplo colchão social convive com a condução ortodoxa da economia, assim como convivem, acomodados sob as asas do mesmo Estado, sindicalistas e velhos caciques da política patrimonial.
É possível que, no futuro, o PSDB, com Aécio ou Geraldo Alckmin, venha a se afastar do atual "consenso social-democrata", no qual se encontra em óbvia desvantagem em relação ao PT, e possa capitanear uma alternativa de poder de perfil mais "social-liberal".


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