São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

A pressa de ser Brasil

RIO DE JANEIRO - No Brasil, os anos começam uma porção de vezes. Há o início oficial, a 1º de janeiro. Vem depois o início operacional, que acontece na semana seguinte à do Carnaval. Finalmente, entramos no início real, depois da Páscoa, com quatro meses já passados e com gente fazendo previsões para o ano seguinte.
Assim sendo, vamos entrar finalmente em 2006 sem Orçamento aprovado, com uma MP do tamanho de um Orçamento federal, a principal companhia aérea brasileira no maior vinagre empresarial da nossa vida econômica, gente indiciada pelo Ministério Público mas com processos previamente adiados para 2007.
O que fica realmente para o ano que já está indo para a sua metade é a campanha eleitoral, que no fundo é a tentativa de programar os anos seguintes, tendo como base as assombrosas promessas de todos os candidatos à Presidência.
Depois reclamam que se diz por aí que o Brasil é o país do futuro. O próximo governo, seja lá qual for, vai passar os dois primeiros anos estudando estrategicamente o terreno. E os outros dois preparando o decantado "país para os nossos netos". Estes sim, viverão num país das maravilhas. Das quais dificilmente teremos notícia, pois o futuro só começará para os netos dos nossos netos.
É tempo pra burro para a gente esperar, embora pessoalmente eu nada espere. Quando era criança, no século passado, havia um bordão muito usado quando havia algum tipo de confusão doméstica ou pública: "Calma, minha gente, o Brasil não tem pressa!" A dona de casa que pedia ao marido um reforço orçamentário para comprar mais feijão, o aluno que se afobava para saber quando seriam os exames, o bonde que parecia uma carroça: todos se desculpavam na base de que o Brasil não tinha pressa.
Eu também não tinha pressa. Levei anos para aprender a viver e ainda não aprendi.


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