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CARLOS HEITOR CONY
A pressa de ser Brasil
RIO DE JANEIRO - No Brasil, os anos começam uma porção de vezes. Há o
início oficial, a 1º de janeiro. Vem depois o início operacional, que acontece na semana seguinte à do Carnaval. Finalmente, entramos no início
real, depois da Páscoa, com quatro
meses já passados e com gente fazendo previsões para o ano seguinte.
Assim sendo, vamos entrar finalmente em 2006 sem Orçamento aprovado, com uma MP do tamanho de
um Orçamento federal, a principal
companhia aérea brasileira no maior
vinagre empresarial da nossa vida
econômica, gente indiciada pelo Ministério Público mas com processos
previamente adiados para 2007.
O que fica realmente para o ano
que já está indo para a sua metade é
a campanha eleitoral, que no fundo é
a tentativa de programar os anos seguintes, tendo como base as assombrosas promessas de todos os candidatos à Presidência.
Depois reclamam que se diz por aí
que o Brasil é o país do futuro. O próximo governo, seja lá qual for, vai
passar os dois primeiros anos estudando estrategicamente o terreno. E
os outros dois preparando o decantado "país para os nossos netos". Estes
sim, viverão num país das maravilhas. Das quais dificilmente teremos
notícia, pois o futuro só começará para os netos dos nossos netos.
É tempo pra burro para a gente esperar, embora pessoalmente eu nada
espere. Quando era criança, no século passado, havia um bordão muito
usado quando havia algum tipo de
confusão doméstica ou pública: "Calma, minha gente, o Brasil não tem
pressa!" A dona de casa que pedia ao
marido um reforço orçamentário para comprar mais feijão, o aluno que
se afobava para saber quando seriam
os exames, o bonde que parecia uma
carroça: todos se desculpavam na base de que o Brasil não tinha pressa.
Eu também não tinha pressa. Levei
anos para aprender a viver e ainda
não aprendi.
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