São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Caudilho cordial e neopopulismo

SÃO PAULO - Foi uma semana de vexames e reveses para o lulismo-petismo. O núcleo cabeça-dura de Lula, provinciano e autoritário, surfou em uma casca de banana durante dias. O caudilho cordial, Lula, ratificou mais alguns de seus repentes salvacionistas, tais como o Primeiro Emprego, que tenderá a subsidiar a demissão de gente de mais de 30 anos. Mas dois dos melhores quadros do PT, Tarso Genro e Fernando Haddad, vieram com um projeto pensado para o ensino superior.
O projeto Genro-Haddad reserva 50% das vagas das universidades federais para quem estudou em escola pública. Cerca de 42% dos estudantes da federais já vêm de escolas públicas. Mas estão nos cursos menos concorridos. A reforma Genro-Haddad teria impacto apenas em cursos como medicina, direito etc.
Além do alcance restrito, tal reforma teria de prever dinheiro para a compra de material escolar, roupa e comida dos mais pobres (por que não usar a verba em bolsa-escola?). De resto, estudantes de escola pública que tomariam as vagas "sociais" seriam ainda de classe média (o desempenho dos alunos de escola pública é determinado pela renda). Ainda assim, o nível das escolas cairia, como indica estudo da USP.
Outra idéia de Genro-Haddad é obrigar as faculdades particulares que não pagam tributos a reservar 20% de suas vagas para pobres, que não pagariam mensalidade.
Hoje tais escolas não pagam impostos e não dão nada em troca. Se tivessem de pagar, fariam "planejamento tributário" e jogariam parte do custo nos alunos. Mas, antes de tocar o projeto, é preciso auditar os imaginativos esquemas empresariais que donos de escolas inventam para travestir o lucro em pilantropia. E, de novo: quem pagaria os outros custos dos alunos pobres? Enfim, tais vagas-grátis não iriam para os já inadimplentes, não havendo aumento real do número de universitários pobres nas escolas?
O efeito de tais medidas tende a ser marginal na distribuição de renda e na composição social da elite do país. Beneficiaria, no máximo, a classe média baixa, em parte uma freguesia petista. E os miseráveis?


Texto Anterior: Editoriais: EFEITO IRAQUE

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Blindagem de Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.