São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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VALDO CRUZ

Falso dilema

RIO DE JANEIRO - Bem a seu estilo, Guido Mantega (Fazenda) expôs publicamente nesta semana seu dilema cambial. Em tom irônico, soltou o seguinte comentário sobre o aumento do investimento estrangeiro no país, que joga mais dólar na economia: "Não sei se devo festejar ou não".
Sua fala, durante o Fórum Nacional no Rio, arrancou gargalhadas da platéia, formada por economistas e empresários. País afora, contudo, o tema gera também muito choro e ranger de dentes.
Ali, Guido Mantega revelou espontaneamente algo que já o incomodou mais, nem tanto hoje: se comemora ao lado dos que ganham com o dólar baixo ou se fica solidário àqueles que sofrem por conta do real valorizado.
Presente ao fórum, o economista Afonso Celso Pastore alertou que o governo não deve cair na tentação de adotar soluções fáceis que impliquem retrocesso na economia, como elevar o protecionismo.
Citou como recaída a alta das tarifas de importação de têxteis e calçados. Pregou exatamente o contrário: abrir ainda mais a economia, medida para a qual Mantega tapou os ouvidos.
Outro caminho seria reduzir os gastos públicos e aliviar o peso da política monetária no combate à inflação, permitindo uma queda ainda maior nas taxas de juros e melhora da taxa de câmbio. Mas por aí o governo também já sinalizou que não seguirá.
Enquanto isso, na toada do dólar descendo a ladeira, o Banco Central deve acelerar a queda dos juros. Até lá, antes de descobrir se ri ou se chora, Mantega deveria tomar cuidado para não irritar aqueles que ganham com o atual câmbio.
Afinal, um deles vem a ser o seu chefe. Lula só tem a ganhar com o real forte. Enquanto o dólar cai, sua popularidade sobe. Resultado de inflação baixa, poder de compra em alta, classe média voando para Disney e povão feliz da vida com a farra dos importados.


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