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VALDO CRUZ
Falso dilema
RIO DE JANEIRO - Bem a seu estilo, Guido Mantega (Fazenda) expôs publicamente nesta semana
seu dilema cambial. Em tom irônico, soltou o seguinte comentário
sobre o aumento do investimento
estrangeiro no país, que joga mais
dólar na economia: "Não sei se devo
festejar ou não".
Sua fala, durante o Fórum Nacional no Rio, arrancou gargalhadas da
platéia, formada por economistas e
empresários. País afora, contudo, o
tema gera também muito choro e
ranger de dentes.
Ali, Guido Mantega revelou espontaneamente algo que já o incomodou mais, nem tanto hoje: se comemora ao lado dos que ganham
com o dólar baixo ou se fica solidário àqueles que sofrem por conta do
real valorizado.
Presente ao fórum, o economista
Afonso Celso Pastore alertou que o
governo não deve cair na tentação
de adotar soluções fáceis que impliquem retrocesso na economia, como elevar o protecionismo.
Citou como recaída a alta das tarifas de importação de têxteis e calçados. Pregou exatamente o contrário: abrir ainda mais a economia,
medida para a qual Mantega tapou
os ouvidos.
Outro caminho seria reduzir os
gastos públicos e aliviar o peso da
política monetária no combate à inflação, permitindo uma queda ainda maior nas taxas de juros e melhora da taxa de câmbio. Mas por aí
o governo também já sinalizou que
não seguirá.
Enquanto isso, na toada do dólar
descendo a ladeira, o Banco Central
deve acelerar a queda dos juros. Até
lá, antes de descobrir se ri ou se
chora, Mantega deveria tomar cuidado para não irritar aqueles que
ganham com o atual câmbio.
Afinal, um deles vem a ser o seu
chefe. Lula só tem a ganhar com o
real forte. Enquanto o dólar cai, sua
popularidade sobe. Resultado de
inflação baixa, poder de compra em
alta, classe média voando para Disney e povão feliz da vida com a farra
dos importados.
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